O suspeito da morte de António Figueira, presidente dos Mosqueteiros em Portugal, foi a casa da vítima, por razões ainda desconhecidas, depois de cometer o crime. Após matar o empresário com um único tiro e arrastar o corpo para debaixo da cama, pegou no jipe da vítima e dirigiu-se à vivenda da família Figueira, situada em Ourém, a trinta quilómetros de Leiria.
Marc Lastavel abateu o sócio com grande frieza no domingo à noite, no apartamento onde residia, no Edifício Europa, em Leiria. O crime foi antecedido de uma violenta discussão, motivada por desentendimentos sobre os negócios. A zaragata foi ouvida por alguns vizinhos, que não se aperceberam do disparo por ser um barulho seco, confundível com o arrastar de móveis. O homicida apressou-se a sair do prédio, mas foi visto por um vizinho, que nada notou de estranho.
Em vez de entrar no seu carro, Marc Lastavel sentou-se ao volante do jipe do empresário e seguiu para a residência deste, em Pêras Ruivas, Ourém. Usou o comando que estava na viatura para abrir o portão, estacionou na garagem e dirigiu-se para o interior da vivenda.
Ninguém se apercebeu da sua presença por ser de madrugada e a mulher e as duas filhas do empresário estarem dormir. Mas os passos de Marc Lastavel ficaram registados no sistema de video vigilância. Não se sabe o que levou o suspeito a deslocar-se à residência da vítima quando ainda estava na posse da arma usada para cometer o crime, como sugerem as imagens captadas pelas câmaras, que já estão em poder da PJ.
António Figueira saiu de casa no domingo ao final da tarde, informando a família de que ia a uma reunião em Leiria. Não voltou a dar notícias. Terça-feira de manhã foi comunicado o seu desaparecimento à PJ, que pouco depois encontrou o cadáver, já em decomposição.
As primeiras pistas levaram logo os investigadores a suspeitar de Marc Lastavel, pelo que foi de imediato pedida a emissão de um mandado de busca internacional, por se suspeitar que tenha fugido para junto de familiares que residem em França.
LUTO E DOR NÃO FECHAM LOJAS
Nas lojas de que era proprietário, é total o silêncio sobre a morte de António Figueira. Os funcionários voltaram ontem a vestir-se de preto para assinalar o luto pela morte do empresário. Todas as lojas mantiveram o mesmo horário de funcionamento, mas o ambiente era de pesar, dado que os trabalhadores estavam habituados a contactar com António Figueira e também com a mulher, Paula Figueira, que acompanhavam de muito perto o movimento de cada estabelecimento. Na loja de Ourém os empregados optaram por usar uma Thirt preta da campanha ‘Eu ajudo’ de angariação de fundos para os bombeiros locais, num gesto que o empresário com certeza iria elogiar. Em todas as entradas continuava afixado um comunicado a informar do "falecimento do sr. António Figueira, que incorporava de corpo e alma o papel de grande empresário da região".
Na sua residência, em Pêras Ruivas, à saída da cidade de Ourém em direcção a Tomar, o silêncio também era nota dominante. As entradas e saídas eram controladas por um funcionário de uma empresa de segurança e por um sofisticado sistema de videovigilância. Ao longo de todo o dia, amigos visitaram a família, tendo os pais do empresário chegado ao final da manhã. Estavam profundamente emocionados e uniram-se à nora e às netas num longo abraço.
FUNERAL HOJE À TARDE
O funeral realiza-se hoje à tarde e António Figueira ficará sepultado no mesmo cemitério que outro empresário que foi seu vizinho e de quem era muito amigo: Abílio Aquino, vítima de um trágico acidente de viação em Dezembro de 2005. Segundo uma pessoa próxima daf amília, o presidente de Os Mosqueteiros fazia questão de ficar no cemitério de Fátima por lá estar sepultado o amigo e vizinho e ainda pelo simbolismo da cidade-santuário. O corpo ficará em câmara ardente na Casa Mortuária de Fátima durante a manhã e às 14h00 irá para a Igreja Matriz, onde o padre Rui Marto celebra a missa de corpo presente, após o que o funeral seguirá para o cemitério em frente, ficando a urna depositada no jazigo colectivo.
DEIXA DUAS FILHAS MENORES
Era natural do Porto, mas foi em França que viveu durante largos anos até regressar a Portugal e se fixar em Ourém, numa vivenda de luxo à saída da cidade. António Figueira tinha 41 anos, era casado e pai de duas meninas, de 11 e 14 anos. Entrou no grupo Os Mosqueteiros em 1991 e no ano seguinte foi responsável pela instalação do Intermarché em Ourém, seguindo-se a abertura das lojas na Marinha Grande e Leiria (Gândara dos Olivais e Olhalvas). Em Janeiro assumiu o cargo de presidente do grupo Os Mosqueteiros. Tinha uma fortuna pessoal incalculável, sendo proprietário de vários apartamentos em Leiria e noutras cidades, além de uma vivenda em Vale de Lobos, no Algarve, onde passava férias com a família.
INSUCESSO OPÔS OS SÓCIOS
Marc Lastavel é natural de França, tem 52 anos, olhos esverdeados, cabelo claro, é alto e forte. Foi funcionário do grupo Os Mosqueteiros em França até Julho de 2003, tendo vindo para Portugal há quatro anos com o objectivo de lançar com o sócio António Figueira as lojas Baobad, que associam o universo do jardim com a decoração e animais de companhia. A partir da loja de Leiria, com 2000m2 de área, junto ao Intermarché, pretendiam expandir o negócio pelo País, abrindo três a quatro estabelecimentos por ano. Os primeiros resultados de exploração ficaram aquém das expectativas. Marc Lastavel, que deixou em França a mulher e o filho, confidenciou a amigos a sua desilusão, não só pelo insucesso da loja mas também pela má relação com o sócio.
DEPOIMENTOS
"SEMPRE APOIOU AS CAUSAS SOCIAIS": David Catarino, Presidente da Câmara de Ourém
Era um empresário e um empreendedor que cresceu a pulso no estrangeiro e regressou a Ourém para se estabelecer. Apesar da juventude, sempre teve sensibilidade para apoiar as causas sociais, como é o caso dos bombeiros ou das férias arqueológicas."
"A REGIÃO PERDEU UM EMPREENDEDOR": Paulo Fonseca, Governador Civil de Santarém
Perdi um amigo e a região perdeu um empreendedor. Tinha grande admiração por ele, por tudo o que conseguiu construir, pela visão empresarial e social. Mesmo nos momentos de dificuldade andava com um sorriso nos lábios e com alegria de viver."
"JUVENTUDE OURIENSE ESTÁ DE LUTO": Sérgio Ribeiro,Ex-eurodeputado
"TINHA CAMPANHA PARA AJUDAR OS BOMBEIROS": Mário Santos, Vice-presidente Ass. Bomb. Ourém
Era um empresário com muito valor que ajudou sempre os bombeiros com donativos, alguns muito importantes. Agora estava a desenvolver uma campanha no Intermarché para apoiar todas as corporações do concelho de Ourém."
SAIBA MAIS
INVESTIMENTO
O empresário tinha investido no ano passado 22 milhões de euros na remodelação das unidades de Ourém e Olhalvas.
320 postos de trabalhos criados pelo empresário com a abertura dos supermercados Intermarché em Gândara dos Olivais e Olhalvas (Leiria), Marinha Grande e Ourém.
300 lojas Intermarché, Ecomarché, Vêtimarché, Stationmarché e Bricomarché que António Figueira pretendia atingir até ao fim do ano, enquanto presidente dos Mosqueteiros em Portugal.
EM FRANÇA
O suspeito terá fugido para França, de onde telefonou para uma pessoa próxima em Portugal.
NOTAS
NOTA - CONFIANÇA NA POLÍCIA
A administração do grupo Os Mosqueteiros mostra-se "confiante de que a polícia portuguesa e a Justiça estão a fazer tudo ao seu alcance para clarificar" o homicídio
PJ - CADÁVER RETIRADO À NOITE
O corpo do empresário só foi retirado do apartamento depois das 21h00 de anteontem, após as perecias realizadas pelos técnicos do Laboratório de Polícia Científica da Judiciária
OLHALVAS - MAIS OFERTA
O Olhalvas Park, nas Olhalvas, abriu o ano passado e integra várias lojas, das quais se salientam o Intermarché, o Vetimarché, a loja Baobab e vários espaços de cafetaria e restauração
Isabel Jordão / Francisco Pedro / Tânia Laranjo
CORREIO DA MANHA