Portugal, de entre os 27 países da União Europeia, é um dos nove mais pobres, existindo 1,9 milhões de pessoas que vivem abaixo do limiar da pobreza, na sua maioria no Norte. A região, mergulhada na falência das fábricas, lidera a pobreza em Portugal com um rendimento per capita expresso em poder de compra idêntico ao dos países de Leste. Diferente é a situação da Grande Lisboa. A única região rica do País – segundo as contas da União Europeia – apresenta um poder de compra superior à média de Espanha e Itália e está próximo de França.
O agravamento da pobreza em Portugal e as políticas sociais existentes são hoje debatidos em simultâneo em Guimarães, Viseu e Beja. A iniciativa da Rede Europeia Anti-Pobreza/Portugal visa assinalar o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que se celebra a 17.
Segundo dados do organismo de estatística europeu, Eurostat, cada um dos 3,7 milhões de habitantes do Norte tem 13 399 euros anuais do Produto Interno Bruto, expresso em termos de poder de compra. Um pouco acima é a média de cada habitante da Eslováquia: 13 563 euros.
Valor bem mais alto dispõe cada um dos 2,8 milhões de habitantes da Grande Lisboa ao receber 23 816 euros anuais. A média de Espanha é de 23 069; em França o ganho anual é de 25 077 – foi revelado em Fevereiro pelo Eurostat, com base em valores de 2005.
Segundo o antigo ministro da Economia, Eduardo Catroga, 'na última década verificou-se um empobrecimento do Norte pela concorrência no tecido produtivo tradicional, como o caso dos têxteis, do alargamento da União Europeia aos países de Leste e com a posterior abertura aos mercados da China e da Índia'. Para Eduardo Catroga, 'é possível realizar uma correcção das assimetrias com a introdução de planos, como os existentes na Itália para o Sul, ou nos Estados Unidos, na zona do Mississipi'. 'É um processo permanente que envolve a realização de incentivos fiscais e financeiros', diz.
NÚMEROS
4386 euros anuais, no máximo, é o rendimento com que vivem os 1,9 milhões de pessoas em situação de pobreza.
16 891 euros anuais é o rendimento médio de cada português. A média europeia em 2005 foi de 22 400 euros, segundo o Eurostat.
100 mil pessoas deverão participar no ‘Levanta-te e Actua’. Evento a decorrer em vários pontos do País contra a pobreza.
PORTO LIDERA FORTUNAS
Apesar da Região Norte ser a mais pobre do País, é na Área Metropolitana do Porto que se encontram as duas maiores fortunas nacionais. A lista é liderada por Américo Amorim, de Santa Maria da Feira, com sete mil milhões de euros. Após o sucesso na cortiça, investiu no petróleo, transformando-se no segundo homem mais rico da Península Ibérica, só ultrapassado por Amancio Ortega, dono da cadeia de lojas Zara. Belmiro de Azevedo, dono do grupo Sonae, ocupa a segunda posição, com dois mil milhões de euros, revela a revista ‘Forbes’.
'POBRES VÃO SOFRER MAIS COM A CRISE BANCÁRIA': Padre José Maia, presidente da Fundação Filos
Correio da Manhã – A crise dos mercados irá agravar mais a pobreza?
José Maia – Tenho a certeza de que serão os pobres que irão sofrer mais na pele a crise bancária e consequente agravar das taxas de juro, que resultaram dos benefícios pornográficos obtidos por aqueles que praticam um capitalismo selvagem e miserável.
– A Região Norte é a mais pobre do País. Há soluções para sair da crise?
– O mais preocupante é que o Sistema conduz a sociedade ao empobrecimento, perante os magros salários que não dão para viver. É necessário um empenho do Estado capaz de originar o movimento de capitais, como, por exemplo, investir na reabilitação das casas devolutas.
– O que é possível fazer ao nível da solidariedade?
– Na nossa Fundação pretendemos criar as comunidades de vizinhança, em que se procura incentivar as trocas entre vizinhos. Se não forem os pobres a ajudarem-se uns aos outros, estamos fritos.
João Saramago
Correio da manha