“aparições de Fátima”.
do pe. Mário
Sem querer entrar na polémica sobre a imagem de Fátima
que parece andar a render milhões aos seus manipuladores, aqui partilho uma
CARTA ABERTA, muito séria que a minha consciência de presbítero da Igreja do
Porto me levou a escrever aos meus irmãos Bispos
de Portugal., a propósito dos 90 anos das chamadas “aparições de Fátima”. Podem
divulgá-la na íntegra, contacto que citem a fonte.
O meu abraço Padre
Mário
RENUNCIAI AO DEUS DA SENHORA DE FÁTIMA
E DEIXAI-VOS AMAR/GUIAR PELO DEUS VIVO,
O DE JESUS. E
DE MARIA!
Meus irmãos Bispos
1. Completam-se,
agora, como sabeis, 90 anos (1917-2007) sobre a grosseira mentira, posta a
circular em 1917 no nosso país acerca dumas pseudo aparições de nossa senhora,
sempre ao dia 13 de cada mês e durante seis meses consecutivos, de Maio a
Outubro, a três crianças da freguesia de Fátima. Uma mentira que alguns párocos
de Ourém e arredores logo habilmente aproveitaram (se é que não foram eles
próprios os seus inventores, como tudo leva a crer que sim) e, depois, tudo
fizeram para que ela fosse acolhida e interiorizada pelas populações católicas
como a maior das verdades. Este crime sem perdão, que também perfaz um pecado
contra o Espírito Santo viria a ser publicamente corroborado e apoiado, não
muito tempo depois, por alguns bispos residenciais do país, nomeadamente, de
Lisboa, Évora, Beja, Faro, Coimbra, Braga, Angra, Funchal e até do Porto, numa
operação concertada, com tudo de maquiavélico e de perverso. Aliás, a diocese
do Porto até cedeu um dos seus padres cónegos para 1.º Bispo
residencial da Diocese de Leiria, restaurada, poucos meses depois (e não se
diga que foi mera coincidência!). D. José
Alves Correia viria a revelar-se como a
principal peça-chave na consolidação definitiva de toda esta ignomínia.
2. A grosseira mentira teve, por
isso, desde a primeira hora, pés para andar, até porque, além do mais, as
populações católicas do país eram na altura (infelizmente, ainda hoje são!)
populações esmagadoramente analfabetas em teologia jesuânica e viviam, por
aqueles dias, visivelmente desorientadas e em pânico, devido à recente
implantação da República e às drásticas medidas que aquela não se inibiu de
tomar, e bem, contra os seculares e até então intocáveis privilégios do clero e
da Igreja católica romana em Portugal.
Por
outro lado, eram também populações completamente aterrorizadas por catequeses e
pregações terroristas, proferidas noite dentro ou antes do nascer do sol, à luz
fantasmagórica de velas (não havia luz eléctrica), proferidas do alto dos
púlpitos paroquiais pelos padres da chamada Santa Missão, todas elas inspiradas
no mais terrorista dos livros portugueses do século XIX que dá pelo nome de
Missão Abreviada, escrito por um padre português, de seu nome Manoel Couto, ele
próprio um perturbado e aterrorizado capelão de freiras em Chaves que via
demónios em todo o lado, pecados mortais em todas as acções dos seres humanos,
mesmo as mais inocentes, como dançar, namorar, abraçar e beijar, e horrendos
castigos de Deus concretizados em insuportáveis labaredas do inferno que
torturavam e faziam ganir como cães raivosos, dia e noite e por toda a
eternidade, as almas dos pobres pecadores condenados, praticamente todas as
pessoas até então falecidas (basta ver que, no dizer dessas terroristas
catequeses e pregações, era mais fácil encontrar um corvo branco do que
salvar-se uma alma!!!).
3. Digo-vos aqui
publicamente, meus irmãos Bispos, e
sem que a voz e a mão me tremam: São 90 anos de mentira, a mais grosseira e a
mais cruel. E 90 anos de crime, o mais blasfemo e o mais horrendo, porque os
seus mentores e divulgadores não hesitaram nem hesitam em meter os nomes de
Deus, de Jesus e de Maria, sua mãe, em todo este “cozinhado”
eclesiástico-católico sem pés nem cabeça, convertido, com o passar dos anos,
numa engenhosa fábrica de fazer dinheiro sem paralelo no resto do país,
porventura, até na Europa, totalmente isento de impostos (não é por acaso que
qualquer congregação religiosa de frades ou de freiras não descansou, enquanto
não conseguiu abrir uma casa em Fátima, o mais espaçosa possível, para nela
acolher “peregrinos”, pois claro!), e num espaço-altar onde se promove e
alimenta um certo tipo de cristianismo católico desgraçado, sem dúvida, o
principal responsável por muito do saudável ateísmo generalizado com que hoje
estamos cada vez mais confrontados no país e na Europa ocidental. (E como se
não bastassem a enorme basílica-túmulo que lá funciona e a espaçosa esplanada
com a sua capelinha-cofreforte-ou-banco, ainda se lhes junta este ano mais uma
medonha Igreja, denominada da SS.ª Trindade, como se Deus Vivo, o de Jesus,
alguma vez vivesse em templos construídos pela mão dos homens, nomeadamente, os
homens do poder e dos privilégios, como são os clérigos que nesses locais,
mentirosamente ditos sagrados, a tudo presidem como pequenos deuses infalíveis
e intocáveis!...)
4. Quem lê com um
mínimo de atenção ilustrada e evangélica e também com um mínimo de sentido de
dignidade humana, a Documentação Critica de Fátima (hoje, já com vários volumes
publicados), compilada com o propósito expresso de justificar cientificamente a
veracidade das “aparições”, só pode concluir que, do primeiro ao último
momento, tudo aquilo está atolado/conspurcado por pés, mãos e cabeças de
clérigos e de bispos residenciais, completamente esvaziados de teologia
jesuânica, todos firmemente apostados em impor aquela grosseira mentira ao país
e ao mundo. Não há em todo o processo uma única voz dotada de bom senso e de
sanidade mental e teológica. Todos os intervenientes actuam manifestamente com
o típico espírito de zelosos “cruzados de Fátima”, numa causa que a hierarquia
católica por nada deste mundo quis que ficasse pelo caminho, porque
representava o seu maior trunfo-vingança contra a República e contra os seus
nobres ideais de Verdade, de Liberdade, de Igualdade, de Justiça e de Dignidade
humana.
5. O processo que se
arrastou, ao longo destes últimos 90 anos e vai certamente prosseguir por
muitos mais tem infelizmente contado com a criminosa cumplicidade, feita de
distanciamento e de silêncio, de intelectuais católicos e não católicos,
inclusive de teólogos e biblistas de todas as Igrejas, que teimam em optar pelo
faz-de-conta, como se não fosse nada com eles. E, assim, o que pode ter
começado por ser um ingénuo teatrinho catequético, concebido pelos padres da
Santa Missão para tentar impor às populações das aldeias a reza do terço, a pia
devoção ao Imaculado Coração de Maria e a confissão mensal, e também para meter
algum “medo” e “respeito” aos “maçons”que fizeram a revolução da República,
engrossou depois, através dos tempos, como um caudal de águas envenenadas,
sempre com novos e surpreendentes dados, que nem os principais protagonistas de
1917 conheciam, e que foram sucessivamente acrescentados por clérigos sem
escrúpulos, segundo as necessidades e as conveniências de cada momento
histórico.
As
delirantes Memórias da Irmã Lúcia, iniciadas em 1935 por pressão desses mesmos
clérigos que faziam da pobre freira gato-sapato, são, neste particular, o que
há de mais aberrante exemplo de manipulação clerical e de delírio eclesiástico.
Mas são essas famigeradas Memórias que estão na origem da chamada “Fátima
Dois”, por sinal, ainda totalmente desconhecida à data (1930) em que o
1.º Bispo de Leiria
publicou a sua Carta Pastoral a dar como “dignas de crédito” as aparições e
toda a mentira de Fátima que elas objectivamente constituem. Será que vós, meus
irmãos bispos, não sabeis estas coisas? Será que preferis ser cegos e guias
cegos?
6. Na retaguarda de
toda esta mentira, tem estado sempre, desde o primeiro momento até aos nossos
dias, um núcleo duro de cérebros clericais, poucos, mas bem concertados entre
si. Ora, vestiram o papel de jornalistas que faziam caricatas perguntas às três
crianças, ou o papel de inquiridores sobre o “fenómeno”, junto de crédulos e
submissos paroquianos escolhidos a dedo. Eles próprios deram as respostas a
essas perguntas como melhor convinha aos seus maquiavélicos propósitos (nada
foi deixado ao acaso, mas foi assim que nasceu a chamada Documentação crítica
de Fátima, toda ela cheia de parra e uva nenhuma, compilada/tratada
“cientificamente” e editada, também ela por outros clérigos!); ora vestiram o
papel de confessores e de directores espirituais das crianças, sobretudo da
sobrevivente Lúcia, depois que esta foi empurrada por eles para a vida de
freira de clausura (uma barbaridade sem nome, muito pior do que um ocasional
crime de pedofilia!); ora vestiram e ainda vestem o papel de bispos que tudo
aprovam e justificam como do interesse de Deus (para este tipo de
eclesiásticos, os interesses da Igreja, mesmo os mais inconfessáveis e
perversos são sempre interesses de Deus!); e, finalmente, até vestiram o papel
de papa de Roma, com destaque para o polaco João Paulo II, um compulsivo
fatimista primário, porventura bem-intencionado, mas que tudo tentou para levar
de novo a Igreja do Vaticano II aos tempos e às alienantes devoções
pre-conciliares, sem se aperceber que todas elas são pagãs, deístas, inumanas,
e referentes ao universo religioso das deusas e dos deuses inventados por
ancestrais medos das populações não ilustradas e não evangelizadas.
7. Como já disse,
nada foi deixado ao acaso, desde o primeiro instante. Até que, em Outubro de 1930,
a Mentira das aparições foi declarada digna de crédito
pelo 1.º Bispo da restaurada diocese
de Leiria, mediante uma Carta Pastoral que, só por si, deveria fazer corar de
vergonha a Igreja do Concílio Vaticano II. O documento episcopal, datado de 13
de Outubro de 1930 foi publicado na íntegra, três dias antes, na edição de 10
de Outubro pelo diário católico “Novidades”!!! Apoia-se todo ele num extenso e
prolixo Relatório, escrito pelo Cónego Nunes Formigão (querem agora
beatificá-lo e canonizá-lo, certamente como recompensa pelos serviços que
prestou à causa da mentira de Fátima!), o qual, por sua vez, quase se limita a
transcrever pedaços inteiros dos delirantes livros que ele próprio havia
escrito e editado anteriormente, sempre sob o pseudónimo de Visconde de
Montelo, com o notório objectivo de impor como verdade a mentira de Fátima ao
país e ao mundo.
8. A data escolhida para a aprovação
oficial da mentira de Fátima também não foi inocente. O Estado Novo de Salazar
dava então os primeiros passos e carecia como de pão para a boca duma mãozinha
do “céu” (entenda-se, dos clérigos católicos) para se impor definitivamente no
país contra a República de 1910 e contra os seus nobres ideais (e não é que há
até uma carta atribuída à delirante Irmã Lúcia que fala de Salazar como o
escolhido por Deus para conduzir de novo o nosso país aos caminhos da religião
católica?!). Ora, como um favor com outro favor se paga, Salazar, uma vez
consolidado no Poder, lá assinou a Concordata com o Estado do Vaticano e restituiu
à Igreja portuguesa os privilégios dos clérigos e muito do património
eclesiástico anteriormente nacionalizado.
9. Entretanto, das
três crianças instrumentalizadas para ajudar a dar corpo à mentira de Fátima,
todas elas de muito tenra idade e sem saberem ler nem escrever, Jacinta e Francisco
eram irmãos de sangue, primos e vizinhos de Lúcia, a mais velhinha, a quem por
isso coube naturalmente o papel de actriz principal em todo aquele teatrinho de
mau gosto. Foi também a única que sobreviveu a todo aquele frenético alvoroço
eclesiástico das pseudo-aparições, já que Jacinta e Francisco,
de tão fragilizados e aterrorizados pelo medo do inferno incutido pelos
pregadores da Santa Missão não resistiram à pneumónica que, pouco tempo depois
da mentira de Fátima, grassou na região e dizimou muita gente (como vêem, meus
irmãos Bispos, nem a senhora de
Fátima, com tanta fama de milagreira lhes valeu, nem valeu às populações
empobrecidas da região). Mas o que ainda mais dói, na morte antes de tempo
destas duas crianças irmãs é o escandaloso abandono a que Jacinta e Francisco
foram votados, durante a doença, por parte dos clérigos que as utilizaram, como
a deixar perceber que até lhes convinha que elas morressem. A mentira de Fátima
teria assim mais facilmente pés para andar. O que veio a suceder, sobretudo
depois que conseguiram manter sequestrada por toda a vida e em progressivo
estado de delírio, a única sobrevivente, Lúcia.
10. Eis, meus irmãos Bispos
o que achei por bem dizer-vos nesta ocasião dos 90 anos da mentira de Fátima.
Não me queirais mal por isso. Sabei que o que me move é o amor à causa do
Evangelho que, como presbítero da Igreja do Porto, me cumpre anunciar oportuna
e inoportunamente. Ai de mim, se não evangelizar. Bem sei que a mentira de
Fátima é por vós oficialmente apresentada, desde a primeira hora, como uma
epifania de Deus. Mas esse é o seu pecado maior. Porque a Deus, o de Jesus,
nunca ninguém o viu nem verá. “O Filho unigénito, que é Deus e está no seio do
Pai, é que O deu a conhecer" (Jo 1, 18). Sabeis como eu que o que não for
assim é mentira, delírio, perversão demoníaca. Nem argumenteis que há fenómenos
que nos ultrapassam e que não somos capazes de explicar. Porque, em
nome da Fé de Jesus, uma coisa sempre teremos de dizer: Pois
se não sabeis explicar este ou aquele fenómeno, investigai mais, até
conseguirdes. E, enquanto não conseguirdes, livrai-vos de, em momento algum
admitir que pode ser uma manifestação miraculosa de Deus. Nesse momento,
abristes a porta à idolatria, a mais abjecta. E não será por sermos um país
caído em idolatria, praticamente desde a fundação da nacionalidade, que somos
hoje o povo que somos? Pensai nisto que vos digo, meus irmãos bispos. E, se
tiverdes coragem, mudai radicalmente de vida e de Deus. Abandonai o falso Deus
da senhora de Fátima, com tudo de vampiro e de demoníaco, e deixai-vos
amar/conduzir pelo Deus Vivo, o
de Jesus. E de Maria. Deixo-vos o meu afecto e a minha paz.
Macieira
da Lixa, Abril 2007
Padre
Mário de Oliveira