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Penafiel: Família da falsa enfermeira em estado de choque

 

Enganou namorado, pais e irmão

imagedownload.aspx.jpgMárcio foi pai apenas durante três horas. O namorado de Simone, a mulher que raptou um bebé do Hospital Padre Américo, em Penafiel, afirma que acreditou na gravidez e que estava muito feliz até a Polícia Judiciária do Porto lhe entrar em casa para resgatar o menino, que nasceu Sandro Gabriel e depois, nas mãos de Simone, passou a chamar-se Márcio Júnior.

"Nem queria acreditar. Nunca imaginei que ela me fizesse is-to", disse Márcio, 24 anos, ao CM, ainda incrédulo com o sucedido. Ontem, o jovem e a família estavam em estado de choque, até porque durante as cerca de três horas em que o bebé esteve junto deles, na casa de Márcio, em Caíde, Lousada, Simone teve comportamentos que, após a descoberta do rapto, deixaram todos mais revoltados.

"Estávamos na sala com o menino quando vimos na televisão que tinham raptado um bebé. Falámos que aquela mãe devia estar a sofrer muito e a Simone nem abriu a boca", contou uma familiar de Márcio.

Simone dirigiu-se para Caíde depois de ter avisado a família de que já tinha tido alta da Maternidade do Porto e que a ambulância a ia deixar no Centro de Saúde de Felgueiras, onde Márcio a foi buscar.

Para trás ficou um ano de namoro, o desejo de Márcio de ter um filho, uma gravidez simulada, um falso parto de cesariana e um curto internamento sem direito a visitas. "Disse que não era preciso ir ao Porto e que como tinha aquele problema dos quistos nos ovários não podia ter visitas". Simone disse exactamente o mesmo aos pais, ao irmão e aos amigos. Alzira Azevedo, mãe de Simone, não contém as lágrimas: "Estávamos contentes, o Márcio é bom rapaz e a família dele gostava muito da minha filha", diz Alzira, que não percebe "o que lhe passou pela cabeça para fazer uma coisa destas". Envergonhados pelo crime que a filha cometeu, os pais de Simone tentam perdoá-la. Márcio, esse, não perdoa: "Nunca mais a quero ver. Nem sequer quis falar com ela na PJ."

Os pais do pequeno Sandro certamente também não esquecerão o dia de ontem. Depois de várias horas de angústia e sofrimento, o bebé está são e salvo com Vera e Roberto. Já está em casa, em São Miguel de Paredes, Penafiel.

PERFIL -  SIMONE FERREIRA

Nascida numa família modesta, Simone, de 21 anos, deixou cedo os estudos. Preparou cuidadosamente a forma como inventou uma gravidez para justificar o rapto. Durante os últimos nove meses simulou enjoos, comprou roupa de bebé, escolheu-lhe o sexo e o nome – Márcio Júnior – para agradar ao namorado, que queria um rapaz. No dia em que raptou o bebé no Hospital Padre Américo vestiu uma bata de enfermeira e levou roupas de recém-nascido. Assim que pegou em Sandro tirou-lhe o fato vermelho que a mãe lhe tinha vestido. Agiu com tranquilidade e passou por funcionários do Hospital sem levantar suspeitas. Saiu pela morgue e fugiu a pé. Cometeu dois erros: contou a alguém que a denunciou e não disfarçou o rosto para as câmaras.

CHAMPANHE PARA FESTEJAR REGRESSO DE SANDRO À MÃE

Sandro Gabriel já está em casa com os pais e restante família. Depois de horas de desespero, Vera Mónica e Roberto Carlos não largam o filho que viram desaparecer na tarde de sábado ao colo de uma falsa enfermeira.

Em casa, em São Miguel de Paredes, Penafiel, até se abriu garrafas de champanhe quando foi confirmado o resgate do Sandro. Ontem à chegada, mais champanhe para assinalar o momento. Os pais de Vera são muito acarinhados na freguesia e a notícia do rapto deixou os habitantes muito revoltados.

Liliana, tia do pequeno Sandro, contou ontem ao Correio da Manhã que a irmã "está a recuperar bem" do enorme desgosto e susto que sofreu e que "agora só quer estar em sossego com o menino para compensar os momentos de dor. Felizmente correu tudo bem e só foram algumas horas de angústia", disse Liliana, elogiando o trabalho da PJ. A irmã de Vera diz que ainda é cedo para saber se a família conseguirá perdoar o que Simone fez. "Acho que não. Apesar de a minha irmã ser muito positiva e prática, foi uma coisa muito grave, não é fácil perdoar", disse Liliana.

Ontem, após a chegada de Sandro, a família recolheu-se em casa com os olhos postos no bebé. As horas que se seguiram ao rapto foram de desespero. Vera pensava que já não iria voltar a ver o filho.

O pai, Roberto Carlos, tentava a todo o custo obter explicações dos médicos, enfermeiras e funcionários. Chegou a perder a calma perante a falta de explicações. Em São Miguel de Paredes, Penafiel, quando a má notícia chegou a avó de Sandro desatou aos gritos.

O casal Vera e Roberto tem duas filhas. A mais velha, com quatro anos, apercebeu-se de que se passava alguma coisa com o irmão e passou o dia a questionar a família. "Foi um dia horrível para todos, estamos exaustos e agora queremos alguma paz", disse Liliana.

Ontem, a felicidade voltou aos mais próximos do pequeno Sandro. Um bebé muito desejado no seio da família, que aparenta ter boa qualidade de vida e ser muita unida e feliz. Com três dias de vida, Sandro passou por uma história dramática e por duas famílias. Uma história que os pais do recém-nascido querem agora esquecer.

OUVIDA HOJE PELO JUIZ

Simone vai ser hoje ouvida pelo juiz de instrução criminal do Tribunal de Lousada. A inquirição acontece naquele tribunal por ser a sede judicial da comarca de Felgueiras, onde o bebé foi encontrado e onde a jovem foi detida em flagrante delito. Simone responde pelo crime de sequestro agravado, mas tem a seu favor a idade e o facto de não ter cadastro. A forma como a jovem preparou o rapto também poderá ser tida em conta pelo Tribunal de Lousada.

GNR NÃO AVISOU JUDICIÁRIA DA AMEAÇA DE RAPTO DO BEBÉ

A GNR não avisou a Polícia Judiciária para a possibilidade de haver um rapto no Hospital de Penafiel. Segundo o Correio da Manhã apurou, a situação causou algum desconforto naquela polícia, já que se trata de um crime de competência exclusiva.

A GNR terá então sido alertada telefonicamente na passada sexta--feira. Uma mulher que não se identificou garantiu que uma jovem, chamada Simone, se preparava para roubar uma criança. E que o devia fazer a qualquer momento no Hospital de Penafiel.

Nesses mesmo dia, os elementos policiais deslocaram-se à unidade de Saúde. Foram verificar se alguém com esse nome tinha entrado na maternidade, mas nada encontraram. Acabaram por desvalorizar o aviso, não informando a Judiciária do Porto. Anteontem, face ao desaparecimento de Sandro Gabriel, os militares da GNR forneceram à PJ os elementos da mulher. A denúncia confirmou-se.

FINALMENTE UM RAPAZ NA CASA

Sandro Gabriel tem duas irmãs, uma tia e uma prima. Até agora, lá em casa só nasceram meninas – um rapaz era desejado há muito tempo. Quando Vera ficou grávida as expectativas aumentaram. "Finalmente é um rapaz", terá dito à família. O pai de Vera foi quem mais comemorou. Depois de duas filhas e três netas, nasceu um rapaz, um herdeiro para a família Soares Rocha.

HOSPITAL ABRIU INQUÉRITO INTERNO

O Hospital Padre Américo, em Penafiel, abriu um inquérito interno para apurar se há responsabilidade da unidade de Saúde no rapto de anteontem. O administrador do Hospital deu uma conferência de imprensa pelas 22h00 de ontem, já Sandro Gabriel se encontrava outra vez na companhia da mãe, e garantiu que todos os procedimentos foram cumpridos. Assegurou ainda que o sistema de videovigilância permitiu captar imagens nítidas da jovem raptora, o que acabou por ser fundamental para as autoridades. Este é o segundo caso naquele hospital em pouco mais de dois anos.

SAIBA MAIS

PULSEIRA ELECTRÓNICA

Permite detectar se o bebé deixa uma área específica. O Hospital de Penafiel ainda não instalou o sistema por falta de verba.

8 anos Pena em que incorre a jovem suspeita de sequestro do bebé recém-nascido.

PORMENORES

BEBÉ ABANDONADO

No mesmo dia em que Sandro Gabriel foi raptado um recém--nascido foi abandonado no Hospital Padre Américo.

ACTUAÇÃO RÁPIDA

Recuperar o pequeno Sandro revelou-se uma operação relativamente rápida. Menos de oito horas depois de ser roubado a Vera, o pequeno Sandro voltava para os braços da mãe.

JUDICIÁRIA EM FORÇA

A PJ fez deslocar ontem para Penafiel e Felgueiras, onde morava a suspeita, dezenas de investigadores. O objectivo foi encontrar o bebé rapidamente, atendendo a que tinha poucas horas de vida e podia precisar de cuidados rápidos.

MUITAS SAÍDAS

Nas primeiras horas, a preocupação no hospital era evidente. Temia-se que a suspeita conseguisse fugir às câmaras de vigilância.

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