40 mil regressam sem trabalho
Os sinais já eram visíveis mas só agora começam a passar a fronteira e a atingir Portugal. Espanha, que é o maior parceiro comercial português, está em forte abrandamento económico. Com o sector da construção civil a ser um dos mais afectados, quarenta mil portugueses que trabalham nas obras em Espanha vão ficar sem emprego, como resultado da crise financeira.Para o sindicato da construção civil, as últimas grandes obras acabaram com a construção da Expo’Zaragoça 2008 e estando o mercado imobiliário espanhol em recessão, "não há nada para construir". Albano Ribeiro, presidente do sindicato, garante que "podemos esperar num futuro próximo o regresso destes portugueses ao país de origem", embora realce que alguns optem por trabalhar noutros países onde sejam melhor remunerados, como França, para onde já rumaram nove mil trabalhadores, dada a situação espanhola. Actualmente trabalham na construção civil espanhola perto de 75 mil portugueses.
O próprio ministro da Economia espanhol veio a público dizer que "a queda no sector de construção se tem intensificado", confirmando os números do Colégio de Arquitectos, que fala em quebras em construções na ordem dos 70% no primeiro trimestre de 2008.
Esta redução de trabalho tem resultado em carrinhas praticamente vazias a atravessar a fronteira para transportar trabalhadores. "Havia uma empresa com 15 carrinhas de nove lugares que agora faz a viagem duas vezes por semana, com apenas duas. Não há trabalho para mais", lamenta Albano Ribeiro.
CRISE ECONÓMICA OU APENAS UMA DESACELERAÇÃO
A questão foi colocada ao primeiro-ministro espanhol: "Qual a diferença entre forte desaceleração e crise económica?" A resposta não reúne consenso. Em Portugal, o presidente da Associação Industrial Portuguesa, Rocha de Matos, fala num abrandamento com consequências para o nosso País. "Serão previsíveis repercussões no emprego, principalmente nas regiões transfronteiriças, e dificuldades nas nossas exportações", facto que também preocupa Armindo Monteiro, presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE). "Espanha é o maior parceiro comercial português e uma recessão como alguns prevêem vai dificultar bastante o crescimento português. As exportações nacionais, que têm sido o balão de oxigénio da nossa economia podem vir a ser seriamente prejudicadas", conclui.
APONTAMENTOS
EMPREGOS
Os empresários espanhóis da construção prevêem que o sector perca 35 mil postos de trabalho.
DÍVIDAS
A organização patronal espanhola Cepco teme que cinco mil empresas ligadas à construção deixem de pagar as dívidas.
PRODUTO INTERNO BRUTO
A economia da Espanha cresceu 2,7 por cento no primeiro trimestre de 2008, menos 0,8 pontos percentuais que nos últimos três meses de 2007.