Enquanto o casal de ourives dormia tranquilamente no segundo piso da sua vivenda em Fregim, Amarante, um grupo de ladrões tentava abrir o cofre-forte de Agostinho e Olívia, que se supõe que continha uma pequena fortuna. Tudo indica que o tentaram arrombar com um maçarico, acabando por provocar um incêndio. Assustados, os ladrões fugiram de mãos vazias e não deram o alerta para o fogo. O casal morreu intoxicado pelo fumo. A PJ do Porto está a investigar a morte dos ourives reformados que, em Amarante, tinham fama de ser ricos.
Foi pelas 02h00 de ontem que o intenso fumo acordou Agostinho Queirós, de 82 anos, e a mulher, Olívia Lopes, de 81. Ainda tentaram chegar a uma varanda da vivenda, mas acabaram por cair no chão da sala de jantar, onde foram encontrados pelos bombeiros de Amarante. Agostinho ainda partiu o vidro de uma janela para que pudessem respirar, mas ambos acabaram por morrer intoxicados pelo fumo. Àquela hora, tudo apontava tratar--se de um incêndio banal, mas rapidamente os primeiros indícios de assalto começaram a surgir. O portão da garagem tinha sido forçado e a porta da cozinha estava arrombada.
“Não temos dúvidas de que foi assalto. Além das portas arrombadas, o fogo começou precisamente na divisão onde eles tinham a caixa-forte. Os ladrões devem ter tentado usar um maçarico para o abrir”, explicou ao CM Jorge Costa, genro dos idosos.
A convicção é partilhada pelas autoridades que acreditam na tese do homicídio com dolo eventual, uma vez que os assaltantes sabiam que havia gente na casa, que não hesitaram em abandonar sem avisar ninguém enquanto as chamas consumiam as paredes de madeira.
Quando os bombeiros chegaram à habitação ainda ouviram os gritos de Agostinho. “Tivemos de utilizar as máscaras para poder resgatar o casal. Ainda tentamos reanimá-los com a ajuda do INEM, mas não resistiram e morreram no local”, explicou ao CM Rui Ribeiro, adjunto dos bombeiros de Amarante.
Os assaltantes não chegaram a abrir o cofre mas, segundo a família, várias gavetas foram remexidas no interior da habitação.
"TÍNHAMOS MEDO DE QUE FOSSEM ASSALTADOS EM CASA"
O casal de ourives já gozava a reforma há largos anos na sua vivenda, a ‘Casa das Laranjeiras’, onde levava uma vida pacata. Durante cerca de 30 anos exploraram uma ourivesaria no centro da cidade de Amarante. Dada a avançada idade do casal, as filhas queriam acolher os pais nas suas casa, mas os reformados sempre recusaram. "Já tínhamos medo que uma coisa destas pudesse acontecer. Mas eles não queiram viver nas nossas casas. A minha mãe dizia muitas vezes que queria morrer nesta vivenda", explicou ao CM Amélia Queirós, filha das vítimas.
Em Amarante, o casal tinha reputação de ser rico e a família não tem dúvidas de que essa fama atraiu os ladrões. A família tem outra certeza: os assaltantes estavam bem informados sobre a disposição das divisões da habitação.
JORNAL CORREIO DA MANHA