David Dourado, o pescador de Caxinas que sobreviveu ao naufrágio do arrastão ao largo da costa francesa deverá regressar a Portugal ainda esta semana para abraçar os familiares
Mulher e pais de David Dourado, o único sobrevivente português do naufrágio
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David Dourado, de 47 anos, deixou ontem o Hospital de Brest. David tinha já deixado os cuidados intensivos daquela unidade hospitalar mas só ontem teve realmente alta clínica.
“Hoje esteve já a prestar depoimentos às autoridades marítimas e a companhias seguradoras, contando os pormenores do acidente, e esta noite vai dormir em casa do patrão”, disse ontem ao CM, Ana Luísa, a mulher do pescador.
David está fisicamente bem mas os últimos momentos de vida de Belmiro Marques Graça – seu primo e companheiro de faina, que aguentou a seu lado mais de três horas nas alterosas e frias águas do Atlântico, até a exaustão o ter finalmente vencido – não lhe saem do pensamento.
“Tantos anos, e nunca vi o meu pai chorar, só agora, ao falar da morte do Miro o ouvi chorar pela primeira vez”, disse ao CM o seu filho mais velho, David José, de 24 anos.
COMBATE PELA VIDA
O heróico combate que David travou com o mar vale-lhe a admiração do pai Otílio, de 73 anos, velho pescador de bacalhau, que recorda alguns sustos que ele próprio apanhou ao longo da sua longa vida a bordo de embarcações “sem a tecnologia de hoje”. Também a mãe Maria Luísa, de 70 anos, se comove cada vez que pensa nas horas que o seu filho esteve dentro de água a lutar contra a morte, acabando por vencer a batalha contra o cansaço. “Ele não desistiu porque pensou muito nos filhos. Ai o que ele não deve ter gritado e sofrido com tanto tempo para pensar neles e em todos nós, coitadinho”, soluça Maria Luísa.
Em casa dos dois pescadores ainda desaparecidos no mar de França, Belmiro Marques Graça e João Damas, o primeiro natural de Caxinas e o segundo de Praia de Mira, o luto carregado torna-se mais doloroso pela falta dos corpos e impossibilidade de realizar os funerais, agora que as últimas e ténues esperanças de sobrevivência se apagaram definitivamente.
BUSCAS VÃO PARA HOJE
As autoridades voltaram ontem à zona do acidente com um helicóptero, um avião e um barco da Marinha, mas não encontraram sinais dos quatro desaparecidos – dois portugueses e dois franceses. As buscas prosseguem hoje até ao meio-dia, mas apenas com um navio da Marinha. O comandante Bernard Hudault explicou ao CM que “os corpos devem estar no fundo e é de esperar que dêem à costa daqui a três ou quatro dias”. O ministro das Pescas francês anunciou ontem que as investigações ao acidente vão incluir equipamento subaquático para filmar o casco do navio, que está a 80 metros da superfície.
À MARGEM
IRMÃOS NÃO SABEM
David tem dois irmãos mais novos que no dia do naufrágio embarcaram para a Escócia. Já estão na faina e ainda não sabem o que se passou.
APOIO DO PATRÃO
O pescador português tem contado com o apoio incondicional da empresa empregadora proprietária do barco.
FAMÍLIA UNIDA
Quase todas as famílias de Caxinas choram pescadores mortos. O sogro de David Dourado também morreu o mar.
“Hoje esteve já a prestar depoimentos às autoridades marítimas e a companhias seguradoras, contando os pormenores do acidente, e esta noite vai dormir em casa do patrão”, disse ontem ao CM, Ana Luísa, a mulher do pescador.
David está fisicamente bem mas os últimos momentos de vida de Belmiro Marques Graça – seu primo e companheiro de faina, que aguentou a seu lado mais de três horas nas alterosas e frias águas do Atlântico, até a exaustão o ter finalmente vencido – não lhe saem do pensamento.
“Tantos anos, e nunca vi o meu pai chorar, só agora, ao falar da morte do Miro o ouvi chorar pela primeira vez”, disse ao CM o seu filho mais velho, David José, de 24 anos.
COMBATE PELA VIDA
O heróico combate que David travou com o mar vale-lhe a admiração do pai Otílio, de 73 anos, velho pescador de bacalhau, que recorda alguns sustos que ele próprio apanhou ao longo da sua longa vida a bordo de embarcações “sem a tecnologia de hoje”. Também a mãe Maria Luísa, de 70 anos, se comove cada vez que pensa nas horas que o seu filho esteve dentro de água a lutar contra a morte, acabando por vencer a batalha contra o cansaço. “Ele não desistiu porque pensou muito nos filhos. Ai o que ele não deve ter gritado e sofrido com tanto tempo para pensar neles e em todos nós, coitadinho”, soluça Maria Luísa.
Em casa dos dois pescadores ainda desaparecidos no mar de França, Belmiro Marques Graça e João Damas, o primeiro natural de Caxinas e o segundo de Praia de Mira, o luto carregado torna-se mais doloroso pela falta dos corpos e impossibilidade de realizar os funerais, agora que as últimas e ténues esperanças de sobrevivência se apagaram definitivamente.
BUSCAS VÃO PARA HOJE
As autoridades voltaram ontem à zona do acidente com um helicóptero, um avião e um barco da Marinha, mas não encontraram sinais dos quatro desaparecidos – dois portugueses e dois franceses. As buscas prosseguem hoje até ao meio-dia, mas apenas com um navio da Marinha. O comandante Bernard Hudault explicou ao CM que “os corpos devem estar no fundo e é de esperar que dêem à costa daqui a três ou quatro dias”. O ministro das Pescas francês anunciou ontem que as investigações ao acidente vão incluir equipamento subaquático para filmar o casco do navio, que está a 80 metros da superfície.
À MARGEM
IRMÃOS NÃO SABEM
David tem dois irmãos mais novos que no dia do naufrágio embarcaram para a Escócia. Já estão na faina e ainda não sabem o que se passou.
APOIO DO PATRÃO
O pescador português tem contado com o apoio incondicional da empresa empregadora proprietária do barco.
FAMÍLIA UNIDA
Quase todas as famílias de Caxinas choram pescadores mortos. O sogro de David Dourado também morreu o mar.