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Horror: Menina mais nova ainda se tentou esconder debaixo da cama

Joana, de 11 anos, foi a última a ser assassinada. Estava a dormir, acordou com tiros e, assustada, tentou esconder-se debaixo da cama. O pai, que já lhe matara a mãe e a irmã, aproximou-se dela de revólver em punho. A menina, de cócoras no chão, morreu com uma bala na nuca.

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A mulher foi morta, à porta do quarto, com um tiro de caçadeira na boca
A única explicação que a vizinhança encontra para a tragédia assenta na vida de Adelino Freire: o empreiteiro enfrentava sérias dificuldades nos negócios e passava noitadas fora de casa. A família Freire vivia numa vivenda geminada, na Rua Cidade de Coimbra, no Montijo.

Na manhã de segunda-feira, muito provavelmente depois das 08h00, Adelino matou a mulher, Idalina, de 40 anos, à porta do quarto: encostou-lhe o cano da caçadeira à boca e disparou. Pouco depois, Adelino vai ao quarto da filha mais velha, Ana, de 21 anos, finalista de Engenharia. Ela está deitada e recebe um tiro de revólver na garganta. Mata a seguir a filha mais nova, Joana. Adelino larga o revólver, volta ao quarto, empunha outra vez a caçadeira. Deita-se na cama, encosta o cano por debaixo do queixo e prime o gatilho.

“Calmo e reservado”, é como todos os que conheciam Adelino Freire o caracterizam. Era natural de Memória, Leiria. Fez-se empresário da construção civil, como o pai. A mulher, Idalina, também era dos arredores de Leiria. Depois do casamento, instalaram-se no Montijo.

Os negócios, segundo amigos de Adelino, começaram há tempos a correr-lhe mal. Ainda assim, conduzia carros topo de gama, saía regularmente com os amigos e gastava dinheiro nas noitadas. Idalina, ao contrário da vida de luxo do marido, fazia limpezas.

Na noite do passado domingo, Adelino Lopes, telefonou a um dos seus funcionários, Bruno Rodrigues, na tentativa de se encontrar com ele, mas o empregado disse que não podia. O empresário encontrou-se depois com um amigo numa das suas empresas, a Imobiliária Vista, a poucos metros de casa. O encontro durou até cerca da meia-noite. Adelino Freire terá ido para a sua residência. Segundo fonte policial, os crimes terão ocorrido na segunda-feira de manhã. De madrugada, os vizinhos teriam ouvido os tiros. Adelino matou a família e suicidou-se depois das 08h00 de segunda-feira – já a vizinhança tinha saído para o trabalho. A polícia só foi alertada pelas 21h30 por uma funcionária da imobiliária que não conseguia contactar o patrão. A PSP arrombou a porta e encontrou o cenário de horror.

PERFIS

ADELINO FREIRE

Adelino António Nogueira Freire, de 45 anos, nasceu na freguesia de Memória, concelho de Leiria, mas vivia no Montijo há mais de 20 anos. Era dono de uma imobiliária, uma empresa de construções e era ainda sócio de outras firmas. “Gostava de aparentar aquilo que não era. Andava sempre com grandes carros”, disse uma vizinha. Era bem conhecido dos cafés junto da sua casa, onde ia sozinho ou com os empregados, mas nunca com a mulher.

IDALINA LOPES

Idalina Lopes, de 40 anos, era natural de Pombal, onde ainda vive a família. Estava empregada há 18 anos no Centro Tecnológico da Cortiça, em Sarilhos Grandes, Montijo. Trabalhava como empregada de limpezas e recentemente dava também uma ajuda na secretaria, disse ao CM Pedro Costa, coordenador do centro. A filha mais velha, ANA, de 21 anos, era finalista de Engenharia do Instituto Superior Técnico, em Lisboa. A pequena, JOANA, tinha 11 anos.

FAMILIARES EM ESTADO DE CHOQUE

Os pais de Idalina Lopes, residentes em Cadavais, Pombal, souberam da morte trágica da filha e netas ontem de manhã pelo telefone e tiveram de receber tratamento hospitalar. “Nada fazia prever uma coisa destas e só pode ter sido um acto de desespero que lhe deu”, disse ao CM Júlia da Silva, mãe de Idalina, sob o efeito de tranquilizantes.

Viu a filha e as netas pela última vez há oito dias quando foram visitá-la. “Estava tudo bem, ele [Adelino] não veio com elas porque tinha trabalho para fazer mas eles eram todos muito amiguinhos”, garantiu, acrescentando que esta não foi a primeira vez que Idalina se deslocou a Cadavais sem o marido. “Quando ele tinha mais trabalho ela vinha sem ele, mas eles davam-se muito bem”, assegurou.

Também em Memória, Leiria, localidade de onde era natural Adelino, ninguém queria acreditar no sucedido. “Eu não sei o que se passou. O meu irmão ligou-me ontem e disse: ‘O meu filho matou a mulher e as filhas e depois matou-se’, desatou a chorar e não disse mais nada”, contou emocionado Manuel Jesus, tio de Adelino Freire.

“Isto é um choque muito grande para toda a família”, afirmou Maria Natalina, prima do empresário, sem conseguir explicar as motivações de Adelino, que tinha ido para o Montijo há mais de 20 anos. “Ele era uma pessoa calma, pacífica e que não falava muito”, contou a prima afirmando que Idalina “falava mais, era muito simpática” e determinada. “A filha mais velha era muito boa aluna e estava quase a acabar o curso e a mais nova também estudava”, acrescentou. O funeral da família está marcado para hoje às 14h00 no Montijo.

CONSTRUIU CASA

A moradia com o número 170 da Rua da Cidade de Coimbra, onde ocorreram os crimes, foi a primeira a ser construída naquela rua, numa empreitada do próprio Adelino Freire. O CM encontrou ontem no local os pais e a irmã do empresário, mas estes recusaram-se a prestar declarações. O pai vive a poucos metros do filho, num prédio que este construiu. A irmã vive actualmente na Suíça. Adelino Freire tem tido sociedades em empresas de construção civil com o pai e com a irmã. O empresário possuía dois automóveis, um Mitsubishi Lancer Evolution e um BMW, que a família guardou numa garagem para “afastar dos curiosos”, disse uma vizinha.

PAGAVA SEM ATRASOS AOS TRABALHADORES

“Pagou sempre a horas. Só este mês é que se atrasou um dia a dar os ordenados e parecia que já estava envergonhado”, disse Bruno Rodrigues, que trabalhava há três anos para Adelino Freire, na empresa Adema Construções, com outros cinco colegas. Apesar dos problemas financeiros, o empresário tinha começado a construir um edifício (na foto) no bairro do Saldanha, Montijo, a meia dúzia de metros da sua residência. “Como patrão não havia melhor, nunca despediu ninguém”, referiu Bruno Rodrigues, acrescentando: “Saía muitas vezes à noite com ele. Ele era um homem que nem bebia.”

AVISOS

O pai de Adelino já o tinha avisado para ter cuidado com os negócios. O empresário construiu dez moradias em Alcochete há um ano e nunca as conseguiu vender. O progenitor disse-lhe para construir duas e só construir mais depois de as vender.

MOTIVOS POSSÍVEIS

DINHEIRO

Uma das causas apontadas para este crime hediondo são os problemas financeiros por que passavam as empresas de Adelino Freire. Investimentos mal feitos estavam a levar o empresário à falência.

AMOR

O facto de Adelino Freire passar muitas noites fora de casa e, por vezes, fins-de-semanas inteiros, poderá ter provocado uma ruptura conjugal.

LOUCURA

Certo é o estado de instabilidade mental a que o empresário chegou - única justificação encontrada para ter morto de forma violenta a família
Informacao : Correio da manhã
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