Padre com armas detido na sacristia
Mal o padre Fernando Guerra deu por encerrada a missa, às 08h00 de ontem, vários militares da GNR irromperam pela sacristia da igreja de Covas de Barroso, em Boticas, Vila Real. Perante o olhar incrédulo de cerca de uma dezena de fiéis que ainda estavam no recinto, o pároco foi detido por suspeita de tráfico de armas. O padre, de 74 anos, foi um dos quatro detidos na operação da GNR de Chaves.
Durante a manhã de ontem foram realizadas várias buscas domiciliárias, nas quais foram encontradas 16 armas (a maioria ilegal), explosivos e milhares de munições. Quase todo o material apreendido estava na casa do padre e, apesar da investigação ainda estar em curso, tudo aponta para que Fernando Guerra seja o líder de uma rede de tráfico ilegal de armas.
Na pequena aldeia de Covas de Barroso, a notícia da detenção não surpreendeu ninguém. Padre na freguesia há mais de 30 anos, Fernando Guerra é conhecido pela sua agressividade. “É um homem bastante agressivo, quer sempre resolver os problemas à pancada. Por isso não ficámos surpreendidos quando vimos a polícia. Sempre soubemos que se passava algo de estranho ”, contou um morador.
O gosto do pároco pelas armas há muito que também era do conhecimento dos moradores. “Quase todos os dias ele pegava nas armas. Quem passava à beira de casa dele conseguia ouvir os tiros”, contou António, um outro paroquiano.
O pároco, tal como os outros detidos, vai ser presente hoje ao Tribunal de Boticas para ser ouvido por um juiz.
"ELE ANDAVA SEMPRE COM ARMAS"
Em Covas de Barroso, os populares não escondem a indignação. Mas por a detenção do padre "não ter acontecido há mais tempo". "Já prevíamos que isto fosse acontecer, ele andava sempre com armas. Devia era ter sido preso há mais tempo. Um homem destes não pode andar a pregar nas igrejas, não tem moral para isso", explicou ao CM António, morador na freguesia. Antes da busca realizada à sua casa o padre negou ter alguma arma. E mesmo quando a GNR as encontrou, Fernando Guerra afirmou desconhecer a sua origem.
No total a GNR de Chaves apreendeu: oito caçadeiras; duas carabinas; pistolas de calibre 6,35 mm e de 7,65 mm (estas de uso proibido); bem como um revólver. Foram ainda encontrados sacos com chumbo para fabrico de cartuchos de caça, pólvora, engenhos explosivos e milhares de munições. A GNR está ainda a investigar a ligação entre o pároco e os restantes três detidos.
BATEU EM SACRISTÃO COM UMA PISTOLA
O passado do padre Fernando Guerra desde cedo ficou marcado pela polémica. Há mais de 15 anos o pároco foi acusado de ter agredido violentamente, com a coronha de uma pistola, o sacristão de Covas de Barroso apenas porque ele tocou o sino mais cedo do que estava combinado. O caso nunca chegou a avançar para tribunal, mas desde esse dia os habitantes da aldeia começaram a temer o pároco. Os anos passaram e em Julho de 2005 o padre voltou a estar no centro das atenções, desta vez por alegar ter sido alvo de uma tentativa de homicídio. Fernando Guerra afirmou, na altura, que quando viajava de carro alguém disparou vários tiros contra a viatura. Nunca surgiu qualquer pista, mas a polícia chegou a desconfiar que foi o padre que disparou contra o próprio carro.
PORMENORES
VIVE COM EMPREGADA
O padre Fernando Guerra vive numa casa perto da igreja juntamente com uma empregada. Revoltada, ontem a mulher refugiou-se e recusou falar com toda a gente.
RECEIO DE VINGANÇA
Em Covas de Barroso vários eram os populares que ontem se recusaram a falar ao CM com receio de uma possível vingança por parte do padre.
BUSCAS
A GNR de Chaves realizou buscas na casa do padre e também na igreja da freguesia.
In : Correio da manha