De: Eulália Moreno - São Paulo
"Voces entendem o que eu falo? Deixa ver se eu falo melhor..(começa a falar com sotaque brasileiro). Estou chegando de um concerto no Carnegie Hall onde fomos calorosamente recebidos .Calorosamente recebidos ( repete, subindo o tom de voz). Temos levado este show a várias partes do mundo e temos sido sempre calorosamente recebidos( repete, mais uma vez).Aqui voces estão muito tímidos. Para o artista é muito importante o que se passa aí desse lado tanto quanto o que se passa aqui em cima do palco".
Assim , depois de ter anunciado que estava na reta final do espetáculo sem ter sequer recebido um " Ah" de lamento, Mariza entre surpreendida e aborrecida com a frieza dos aplausos, com a indiferença de um público que se deslocou ao Auditório Ibirapuera para preenchê-lo totalmente numa noite primaveril de temporal, não resistiu: " desceu das suas tamancas, rodou a sua baiana" e mostrou que o seu apelido " Caixa Geral de Depósitos", vale bem menos do que o seu nome próprio: Mariza.
Não sou banqueira, sequer acionista da CGD.Não entendo de "marquetingue" nem de publicidade. Não tenho nenhum serviço de "bufete". Não represento nenhuma marca de vinhos. Não sou empresária artística. Sou apenas alguém interessada na cultura portuguesa e também em saber para qual ralo vai o dinheiro do Estado português.
O que assisti ontem foi mais um desses famigerados "eventos fechados", não sei se um modismo apenas brasileiro, que ninguém ainda me conseguiu convencer quanto a seus resultados práticos. Um grupo, no caso a CGD , para festejar " entre amigos" o seu primeiro ano de atividades no Brasil promove um faustoso evento com a presença da sua garota propaganda, a reconhecida internacionalmente, Mariza.
O serviço de buffet entregue ao chiquérrimo Fasano com garçons e garçonetes uniformizados circulando pelo rés-do-chão do Auditório para servir aperitivos que incluíam até um " cheirinho" de caviar. Os vinhos, tinto e rosé, embora com as etiquetas "Esporão" não fizeram jus a qualidade conhecida. E com um atraso de apenas quinze minutos os convidados são conduzidos para o Auditório onde a atriz global Maria Fernanda Cândido ( comentário à parte de que o cachê teria sido, no mínimo, de 10 mil reais) dá início a apresentação chamando ao palco a Diretora-Presidente do Banco Caixa Geral-Brasil, Deborah Vieitas, que dirigiu uma breves palavras de boas vindas ao público.
Na apresentação do currículo de Mariza, Maria Fernanda Cândido esqueceu de referir a última notícia divulgada pelo "The Times", de Londres, que o álbum " Fado Curvo" foi considerado por eles, como o 6º melhor álbum da década. Enfim, estava ali para ler a pauta e não para fazer pesquisa no " google".
E chegam ao palco Mariza e os seus instrumentistas, recebidos com frieza. A noite avança, os esforços no palco se multiplicam, há um momento em "Barco Negro" em que a platéia parece acordar mas continua tudo num decrescer de entusiasmo, com várias pessoas das primeiras filas se retirando, até que Mariza, no final, mandou o seu recado. Deu " piti", como diríamos em bom brasileiro.
Insisto: o dinheiro do Estado português vai para o ralo em eventos como esse. Não se justificam a "pompa e circunstância" , esse exagero de Corte francesa quando a nossa Corte está mais para a falida Corte de dom João VI. E há mais: funcionários da CGD aborrecidos com o que se exigiu em relação a mínima atenção que fosse dispensada a imprensa luso-brasileira, com o que critiquei quanto a Mariza ter passado por esta cidade, A MAIOR CIDADE LUSÓFONA DO MUNDO, sem sequer ter dado o ar da sua graça.
Consta que teria estado dando uma entrevista ao programa Jô Soares. O que é certo e comprovado é que ontem, no final do show a Diretora Presidente da CGD, Deborah Vieitas dirigiu-se aos jornalistas Odair Sene e Vanessa do jornal " Mundo Lusíada" e os convidou para irem até o camarim e fazerem uma breve entrevista com a cantora Mariza. Finalmente!!!! Iniciativa da Diretora presidente da CGD que recebe os meus aplausos, sem dúvida.
Ou seja, água mole em pedra dura, tanto bate até que cansa ou tanto bate ,até que fura.
Sobre o show, uma Mariza e músicos esforçados, na intenção de dar o melhor mas visivelmente cansados e com vontade de voltar para casa depois de tantos meses nesta digressão de sucesso que os levou a vários países além de espetáculos em várias cidades de Portugal.
Eulalia Moreno São Paulo