Hipóteses mais prováveis são a troca do fármaco injectado ou a sua adulteração. Demissão na Comissão do Medicamento do Infarmed por explicar
Tudo indica que os seis doentes internados no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, que na semana passada foram submetidos a injecções oculares que lhes provocaram a perda de visão, tenham sofrido uma "agressão tóxica". Ou seja, o problema está no próprio produto injectado nos olhos, sendo as hipóteses mais prováveis uma troca na substância injectada ou a sua adulteração.
É nisso que acredita o presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, António Travassos, que ontem à tarde esteve na unidade a analisar o problema dos doentes com os médicos do hospital. Para já, parece afastada a hipótese de infecção.
"Nada indica a existência de uma bactéria. Primeiro, pela rapidez com que os sintomas surgiram, depois, pelos resultados dos exames", diz Travassos. O hospital adiantou ontem, pelas 16h, que nas últimas 24 horas se verificou "uma ligeira progressão favorável do grau de visão em três dos doentes".
O problema também poderá estar na substância injectada, o Avastin, um fármaco indicado para o tratamento oncológico mas também utilizado no campo oftálmico. Mas as probabilidades parecem remotas. A Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed), que está a analisar amostras do mesmo lote utilizado no Santa Maria, mantém em curso a investigação.
"Não existem indícios de suspeita de defeito de qualidade com o referido medicamento, pelo que não há motivos para a sua suspensão de comercialização ou retirada do mercado, quando utilizado nas indicações terapêuticas aprovadas aquando da sua Autorização de Introdução no Mercado [tratamento do cancro do cólon e do recto]", lê-se na nota. O Infarmed não faz qualquer referência ao uso do fármaco no campo oftálmico nem à demissão, conhecida ontem, de José Morais, presidente da Comissão de Avaliação de Medicamentos (CAM).
O secretário de Estado adjunto e da Saúde, Francisco Ramos, negou que a demissão estivesse ligada ao caso do Santa Maria e o próprio José Morais disse à TSF que havia apenas uma "coincidência no tempo". Mas as funções da CAM, um órgão consultivo do Infarmed a quem compete emitir pareceres nas áreas técnicas relacionadas com o medicamento, dizem bem do seu papel central no inquérito em curso.
Sobredosagem 'improvável'
A hipótese de sobredosagem é considerada "altamente improvável" pela oftalmologista Ângela Carneiro, do Hospital de São João, no Porto. Este medicamento vem em ampolas de quatro mililitros, mas apenas 50 microlitros é que são injectados em cada olho. Mesmo quando o tratamento para vários doentes provém de uma mesma ampola preparada na farmácia do hospital, e já chega dividido ao bloco operatório, os médicos sabem a quantidade que estão a injectar no olho. "É extremamente improvável que tenha havido sobredosagem", acredita.
Mais provável é ter havido uma troca no produto injectado nos seis doentes ou uma adulteração do fármaco, que pode ter sido exposto ao calor ou ter sido mal armazenado. Segundo já tinha explicado o director do serviço de Oftalmologia do Santa Maria, Monteiro Grilo, as injecções são preparadas na farmácia do hospital e chegam ao bloco operatório através de mangas esterilizadas. "Já vem a seringa com a agulha preparada. Os médicos só têm que dar a injecção", disse.
Commentaires
Je me suis vraiment égarée ici. Dommage pour moi, je ne parle pas un traitre mot de portugais :(