“Espalhar sangue no processo”
A intenção do empresário que amputou um dedo em frente a uma magistrada do Tribunal da Figueira da Foz era "rasgar todos os papéis do processo e deixar tudo salpicado de sangue" para impedir a execução da penhora de um terreno. "Passei-me quando a juíza recusou a minha proposta de pagamento da dívida de 170 mil euros e prosseguiu com a abertura de propostas de venda", disse ontem ao CM Orico Santos, 67 anos – irmão do presidente da Naval 1º de Maio.
"Disse-lhe que tinha uma garantia bancária de 1,2 milhões de euros que dava para pagar e ia buscar os documentos à pasta, mas ela recusou", justifica o empresário.
Ao abrir a sua pasta e deparar-se com o cutelo, que comprara no domingo no mercado da Tocha, ainda "embrulhado", agiu: "Com o cutelo no ar gritei: Drª tem de parar. Começou tudo a gritar e a fugir". Foi quando Orico Santos os tentou sossegar, exclamando: "Isto não é para si! Por agora é só para mim, até porque não quero ir para a prisão!"
Desferiu dois golpes no indicador esquerdo em cima da secretária, dividindo-o em três pedaços. "Nem senti nada. Os nervos eram tantos que do primeiro corte apanhei a cabeça do dedo e parece que nem saiu nada, por isso é que cortei mais um pedaço", descreve, classificando o seu acto de "grito de desespero".
Proprietário de uma quinta com 20 hectares em Buarcos, diz estar a ser vítima das "máfias da construção civil", acusando políticos e empresários.
O processo executivo em causa refere-se a uma parcela da propriedade e foi movido por uma empresa que reclamava a devolução do sinal que tinha pago pelo terreno, acrescido de juros. "Eles não chegaram a formalizar o contrato e eu perdi porque disseram que tinha de ser eu a marcar a data da escritura e não o fiz. Na terça-feira quis pagar a dívida, mas impediram-me", explica Orico Santos.
Revoltado com a situação, o empresário assegura ao nosso jornal: "Isto não vai ficar por aqui. Começou em mim e há-de acabar naqueles que estão metidos nas maroscas".
DETALHES
SEIS PESSOAS NA SALA
Na sala do Tribunal da Figueira da Foz onde se procedia à abertura de propostas de venda estavam seis pessoas. Além da juíza, do empresário e do seu advogado, encontrava-se também o filho deste e dois solicitadores.
EXPROPRIAÇÃO
O empresário diz que a sua quinta está também a ser alvo de um processo de expropriação por parte da Câmara da Figueira da Foz para construir um campo de golfe e um parque desportivo. A garantia bancária de 1,2 milhões de euros que exibiu no tribunal foi obtida através de um acordo com a autarquia.
IRMÃO PRESIDE À NAVAL
Orico Santos é irmão de Aprígio Santos, presidente do clube Naval 1.º de Maio. Esteve 40 anos emigrado em França, tendo regressado há dez a Buarcos. Afirma ter a sua vida "toda enterrada na quinta". "Agora, querem-me tirar tudo. Terça-feira foi a gota de água, porque me sinto preso de todos os lados", diz.
In - Correio da manha