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Onda fatal leva oito pescadores -

"Foi uma onda grande, o barco ficou de proa [frente]. Só se salvaram os que se atiraram ao mar. O mestre não abandonou o barco, afundou-se com o ‘Rosamar’." O relato, feito por um familiar de um sobrevivente, ilustra a tragédia vivida na manhã de ontem 24 milhas a norte de Burela, na costa da Galiza. Os corpos de três pescadores portugueses foram resgatados. Cinco outros, um português e quatro indonésios – todos presumivelmente mortos –, continuam desaparecidos. Há cinco sobreviventes (quatro deles portugueses), de uma tripulação de 13 homens (oito portugueses e cinco indonésios).

As vítimas mortais são: José Tomé, da Figueira da Foz; José Graça Silva, das Caxinas, Vila do Conde; e Mário Castanho Silva, o mestre do barco, natural de Matosinhos. Falta resgatar o corpo de Anselmo Silva, de Leça da Palmeira.

No Hospital da Corunha, os familiares foram chegando ao princípio da tarde. A emoção era grande e a revolta também: o socorro terá sido marcado pela demora. A ajuda não foi imediata porque se pensava ter sido um falso alarme. Só após contacto com o armador se percebeu que o barco não estava atracado no cais da Burela.

'O Sérgio está muito abalado mas está bem e consciente. Ainda não falámos do acidente, entendemos que esta não é a melhor altura', disse ao CM um dos familiares do tripulante mais novo do barco (com 28 anos), que ontem continuava sem saber o que acontecera a Mário Silva, seu tio, cujo cadáver só foi reconhecido ao princípio da noite.

Dois dos outros sobreviventes, Adriano Oliveira e Augusto Mário de Jesus, tiveram alta ao final da tarde do Hospital da Corunha e seguiram de autocarro para Burela, a cidade mais próxima do local do naufrágio. Um terceiro português, Luís Almeida, mantém-se internado com sintomas de hipotermia.

VIVOS PORQUE FORAM À ÁGUA

'O socorro foi rápido, mas já não havia nada a fazer.' As palavras são do armador espanhol Jesus Labajém Pita, para quem 13 tripulantes do ‘Rosamar’ trabalhavam.

A onda de grandes dimensões fez com que o barco ficasse quase a pino e se afundasse de imediato. Os que estavam à proa, quatro portugueses e um indonésio, conseguiram aperceber-se do naufrágio e atiraram--se à água, nadando até serem resgatados pelo helicóptero das autoridades galegas.

Ao que o CM apurou, o armador recebeu por volta das 08h30 um SOS (automático e dado pelo aparelho EPIRB que lança o alerta assim que entra em contacto com a água) e tentou contactar a tripulação. Vendo que ninguém respondia, comunicou o socorro às autoridades.

Ainda se gerou uma pequena confusão, já que a Polícia Marítima dizia que o barco estava atracado. Rapidamente percebeu que o que estava no porto de mar era o ‘Seixa Mar’, embarcação que pertence ao mesmo armador, e accionou então todos os meios de salvamento.

A rapidez com que actuaram permitiu a sobrevivência dos cinco homens que se tinham atirado à água, evitando que morressem por via da hipotermia.

O helicóptero transportou-os para o aeroporto de Alvedro, de onde foram levados para o Hospital Universitário da Corunha.

Dos quatro portugueses sobreviventes, três tiveram ontem alta, ficando internado Luís Almeida, da Murtosa, por se encontrar 'muito alterado'.

PORTUGUESES

MORTOS

– José Tomé, Figueira da Foz

– José Graça Silva, das Caxinas,Vila do Conde

– Mário Castanho Silva, de Matosinhos

– Anselmo Silva, de Leça da Palmeira(corpo por resgatar)

SOBREVIVENTES

– Adriano Oliveira, Figueira da Foz

– Augusto Mário de Jesus, Matosinhos

– Sérgio Silva, Matosinhos

– Luís Almeida, Murtosa

'RECEBI O SOS E NÃO CONSEGUI CONTACTAR MAIS'

'As causas estão por explicar. Por volta das 08h30 de hoje [ontem] recebi um alarme através do dispositivo SOS do barco e não consegui contactar mais com a tripulação', disse ontem o armador Jesus Labajén Pita, sublinhando que não sabe o que aconteceu. 'Eles saíam por volta das o5h00 de Matosinhos e regressavam à noite. Iam e vinham todos os dias', esclarece.

TROCA DE NOMES DE EMBARCAÇÕES BARALHA SOCORRO

Segundo as regras instituídas, o Serviço Marítimo contactou o navio naufragado para confirmar o sinistro, mas uma troca de nomes fez chegar o contacto ao ‘Seixamar’, do mesmo armador. Um tripulante informou que este navio estava atracado, mas o armador corrigiu logo de seguida a informação, avisando que era o ‘Rosamar’, que estava em apuros.

'O MAR CONSOOU MAIS CEDO'

A família de José Graça Silva, um dos pescadores que morreram no mar da Galiza, foi a primeira a receber a má notícia, ontem à tarde, nas Caxinas, Vila do Conde. 'O mar vem consoar sempre mais cedo', comentaram os pescadores caxineiros no lamento de mais um homem da terra que perdeu a vida a trabalhar no mar.

A mulher de José Graça Silva vacilou com o choque e teve mesmo de ser internada no Hospital da Póvoa de Varzim. O pescador, de 52 anos, deixa duas filhas, Sílvia, de 28 anos, e Liana, de 23 anos.

Em casa, na zona piscatória das Caxinas, os familiares mais próximos tentavam amenizar a dor com o sentimento de conformidade inerente a uma profissão de risco. 'A vida no mar tem estas desgraças e já todos vivemos tragédias destas, com família ou amigos', comentavam à porta de José Silva. A tia, Maria Alice, contou que o sobrinho tinha regressado ao mar da Galiza há apenas três semanas, depois de uma baixa prolongada. 'Já lá trabalha há quase trinta anos e até agora nunca tinha tido problemas graves no mar, só uns pequenos sustos'. disse Maria Alice.

Outras duas vítimas do naufrágio do ‘Rosamar’ são do concelho de Matosinhos. O mestre Mário Castanho Silva ‘Nazareno', de 55 anos, foi uma das mortes confirmadas ainda ontem. Anselmo Silva, de 49 anos, da freguesia de Leça da Palmeira, estava ainda dado como desaparecido. Ontem, ao início da noite, Cristiana, filha de Anselmo, dizia ao CM que ainda não tinha informações. 'O meu pai estava no barco mas ainda ninguém nos disse se está vivo ou morto', lamentou, com o telemóvel na mão, à espera de um telefonema que lhe desmentisse uma morte que a família já chora.

'GRITEI AO OUVIR O NOME'

Quando ouviu ontem uma referência ao ‘Rosamar’, no noticiário televisivo, Maria Eugénia Gomes, mãe de um dos tripulantes, imaginou o pior. 'Dei um grito mal ouvi o nome do maldito navio', diz, em lágrimas, enquanto vizinhos e familiares, que acorreram a sua casa, em Cova-Gala, Figueira da Foz, a tentam acalmar. O seu receio confirmou-se: o filho, José Gomes Tomé, 52 anos, estava entre os mortos (o corpo, resgatado ao mar, foi identificado já ao princípio da noite).

'O meu filho não sabia nadar', lamenta, transtornada, Maria Eugénia Gomes. Maquinista da embarcação, José Gomes Tomé trabalhava desde os 15 anos no mar e há cinco já tinha sido vítima de um acidente. Segundo a tia, Helena Tomé, sobreviveu porque 'o agarraram pelos cabelos'. Com José Gomes Tomé partiu da Figueira da Foz, há 14 dias, Adriano Almeida, 37 anos, também maquinista, que sobreviveu ao naufrágio. O pai, António Almeida, apanhou 'um grande susto'. 'Podiam ter morrido todos', diz.

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