A empresa ainda não foi notificada, mas o cheque, no valor de de 586 euros, já está assinado. A Câmara de Aveiro vai, finalmente, pagar uma dívida de 17 anos à Auto-Viação da Murtosa, o credor mais antigo do município.
A factura tem a data de 30 de Novembro de 1991 e refere-se ao aluguer de dois autocarros, para visitas de estudo, requisitado pela Câmara de Aveiro, durante último mandato de Girão Pereira (CDS).
O administrador da empresa, Luís Marques, soube da notícia pelo JN. "Depois destes anos todos, 17 anos, dá vontade de encaixilhar o cheque. Mas é uma boa notícia", comentou, acrescentando, com a mesma ironia, "afinal os autarcas e as autarquias são pessoas de bem, demoram a pagar mas pagam".
A Câmara de Aveiro liderada por Élio Maia (PSD/CDS-PP), começou, esta semana, a pagar as dívidas a fornecedores, empreiteiros e instituições, ao abrigo de uma operação de saneamento financeiro que o Tribunal de Contas aprovou, recentemente, depois de um processo que se arrastou cerca de um ano.
O plano que assenta na contracção de um empréstimo de 58 milhões de euros, junto da Caixa Geral de Depósitos (CGD), permite à Câmara transformar a dívida de curto prazo em dívida de médio prazo e ganhar, ainda, alguma folga de tesouraria: mais de 500 mil euros por mês, de juros e outros encargos financeiros.
Depois de a CGD ter libertado a primeira tranche (30 milhões de euros), o último fim-de-semana, feriado incluído, foi de trabalho para funcionários e dirigentes. Até ontem, tinham sido emitidas 653 ordens de pagamento - e respectivos cheques. E, hoje, deverá estar pronto para despacho mais um "monte" de facturas.
O presidente da Câmara, Élio Maia, não se queixa de tanta assinatura. " É um grande alívio, tanto pessoal como institucional, podermos pagar a quem devemos, diz o autarca, admitindo que, "o pagamento das dívidas vai proporcionar uma disponibilidade mental, de tempo e de meios para outras coisas que não tínhamos: penso que não houve uma pessoa, a quem a Câmara deve, que eu não tenha recebido", diz o autarca.
A autarquia montou uma estratégia de pagamento faseado, privilegiando, no primeiro momento, os processos mais simples e de valor mais baixo.
"A ideia é arrumar o maior número de processos e os 'factoring', por causa dos encargos financeiros. Estamos a regularizar as prestações sociais (ADSE, ACASA e Caixa Geral de Aposentações), as contas com as Juntas estarão feitas até ao fim do ano e já há associações que estão a receber", refere Élio Maia, prevendo que os primeiros 30 milhões de euros fiquem esgotados já na próxima semana.
Depois do banco BPI, por causa das operações de "factoring", que ascendem, actualmente, a 14 milhões de euros, os maiores credores são a Somague (cerca de 7,5 milhões de euros de obras) e a SUMA, concessionária da recolha de lixo (mais de 5,5 milhões de euros). Mas a longa lista de dívidas, acumuladas durante vários mandatos, até Dezembro de 2007, também inclui uma de 1,98 euros, à empresa Henrique Vieira e Filhos, de Oliveirinha (Aveiro), e outra de seis euros, à Livraria Bertrand.