O gajo matou-me”, terá dito Ernesto, à beira da morte, pouco depois das 00h30 de ontem. Esfaqueado duas vezes no pescoço, ainda conduziu o táxi até à GNR de Arcozelo, Vila Nova de Gaia, a cerca de 100 metros do local do crime. Buzinou para pedir ajuda e conseguiu cambalear até à porta. Era tarde de mais. Morreu pouco depois.
Ernesto da Silva, taxista de 44 anos, residente em Valadares, Vila Nova de Gaia, foi chamado via telemóvel por um cliente habitual, cerca da meia-noite. O pedido era para uma corrida desde Arcozelo até ao Bairro do Aleixo, no Porto, um local conotado com o consumo da droga, e regresso – com paragem final na Avenida da Igreja, em Arcozelo. Aí perto, Ernesto foi esfaqueado por duas vezes, após ter lutado com o presumível homicida.
O primeiro instinto, quer dos familiares quer dos próprios taxistas amigos de Ernesto, passou pela suspeita de um cliente que a vítima terá transportado em primeiro lugar. Principalmente, pelo facto de a viagem ter terminado exactamente em Arcozelo. Contudo, segundo garantiu fonte judicial ao CM, esse mesmo cliente, interrogado pela Polícia Judiciária, terá permanecido no Bairro do Aleixo, não regressando com o taxista à freguesia de Gaia. O que dá lugar à hipótese de Ernesto ter apanhado outro(s) cliente(s) no mesmo bairro.
A PJ acredita que o taxista, apesar de ter ficado com todo o dinheiro que possuía, foi alvo de uma tentativa de assalto e que, após ter reagido de forma violenta, foi mortalmente esfaqueado.
O vidro frontal estilhaçado, do lado do passageiro, prova a luta entre taxista e quem seguia no lugar do morto, e o ângulo dos golpes faz crer na possibilidade de um segundo passageiro ter esfaqueado a vítima.
Posteriormente, em desespero, e na posse da faca com que foi agredido, Ernesto pediu ajuda via rádio e conseguiu conduzir o táxi durante cerca de 100 metros, até à GNR de Arcozelo, onde viria a morrer. Foram chamados ao local, às 00h32, os Bombeiros da Aguda e o INEM, mas quando chegaram já a vítima era cadáver.
Ernesto da Silva era casado e pai de uma menina de 11 e de um rapaz de 18 anos. Segundo o cunhado, Paulino Ferreira, a vítima estava a pensar deixar a actividade: “Ele só trabalhava no turno da noite e, apesar dos 20 anos de profissão, não andava contente com o que fazia.”
Ainda segundo o mesmo familiar, o cunhado já teria sido vítima de um assalto. “Foi há cerca de dois anos, também em Arcozelo. Resistiu, os taxistas apanharam o ladrão e deram-lhe porrada”, conta Paulino, que também já foi taxista: “É muito perigoso. Anda uma pessoa a trabalhar e acontece isto. Agora estou na construção civil, é mais seguro.”