Os principais lesados foram os padres Missionários da Consolata, que ficaram sem 3,5 milhões de euros. Mas há pelo menos mais duas vítimas de um gestor de conta do Banco Português de Negócios (BPN), que perdeu a cabeça a jogar na bolsa com o dinheiro dos clientes. O caso aguarda julgamento no Tribunal de Leiria.
A burla foi descoberta em finais de 2005, quando o sacerdote responsável pela gestão das receitas da casa dos Missionários da Consolata, em Fátima, recebeu a visita inesperada de dois funcionários do banco. Queriam saber se a instituição estava ‘zangada’ com o BPN, para estar a fazer tantos levantamentos e de grandes importâncias.
Desconfiado, o padre missionário mandou chamar o gestor de conta, a quem costumava entregar os valores para depósito numa conta aberta na agência da Loureira, freguesia de Santa Catarina da Serra, Leiria.
A resposta deixou-o siderado. “Disse-me que estava desesperado e perdido, pois tinha gasto o dinheiro na bolsa, em operações de alto risco”, testemunhou o sacerdote à Polícia Judiciária.
Feitas as contas, o alegado burlão, de 42 anos, tinha desaparecido com 3,5 milhões de euros, levando os missionários a pensar que o dinheiro estava aplicado em fundos “seguros e mais rentáveis” que os depósitos a prazo – como lhes disse.
A instituição religiosa, veio a saber-se depois, não foi a única lesada nesta burla. Segundo o despacho de acusação do Ministério Público, houve mais dois clientes, que viram as suas contas ‘aliviadas’ em mais de 126 mil euros.
A estes depositantes, o BPN repôs as importâncias usadas indevidamente pelo seu funcionário. E constitui-se assistente no processo, para reclamar a dívida.
Quanto ao desfalque na conta dos missionários, o banco não procedeu da mesma forma e os religiosos têm que aguardar pelo desfecho judicial, para tentar reaver o dinheiro.
Norberto Louro, superior regional da congregação, confirmou ontem a existência da alegada burla, mas recusou prestar declarações: “Vamos esperar pela Justiça”.
INVESTIMENTOS DE ALTO RISCO
Em pouco mais de um ano, o arguido terá perdido mais de 3,5 milhões de euros com aplicações de risco na bolsa de valores. Gostava de investir em “warrants”, ou seja, apostando em subidas ou descidas nas tendências de mercado. E investia quantias avultadas. Só num dia, por exemplo, conseguiu 6000 euros de mais valias, ao investir 793 mil euros e receber 799 mil. O problema é que ganhos como estes foram raros. Segundo confessou às autoridades judiciais, começou por investir o dinheiro do sogro, até acumular prejuízos superiores a 500 mil euros. Em aflição, recorreu ao dinheiro dos clientes.
CONSEQUÊNCIAS
DESPEDIDO
O alegado burlão foi despedido do banco após a descoberta da fraude, divorciou-se e foi viver para o Funchal. Está obrigado a apresentações periódicas na esquadra da PSP.
FALSIFICAÇÃO
Ao ser questionado pelos Missionários da Consolata sobre o destino do dinheiro, o arguido apresentou-lhe quatro documentos que haviam sido forjados para afastar suspeitas.
CRIMES
O ex-gestor de conta está acusado de um crime de burla qualificada, um crime de falsificação de documentos e três crimes de abuso de confiança. Dois na forma qualificada e um na forma continuada. É-lhe exigida também a devolução dos 3,6 milhões de euros.
Francisco Pedro, Leiria