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RE: DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA (XVIII - O Rescaldo)

 

 

-----Message d'origine-----
De : LUSIADAS [mailto:cardigos@cardigos.biz]
Envoyé : lundi 23 juillet 2007 15:45
À : Undisclosed-Recipient:;
Objet : DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA (XVIII - O Rescaldo)

 

DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA

A trilogia dos nacionalist

Parte XVIII - O Rescaldo

 

Terminada que está a série de artigos a que chamei “Deus, Pátria, Família – A trilogia dos nacionalistas”, algumas coisas ressaltam de toda a história, independentemente da leitura que cada um fizer: como foi possível que um homem tivesse dominado o país inteiro durante tantos anos; como foi possível que, mesmo depois do acidente da cadeira, que lhe diminuiu as faculdades mentais, gente importante do governo continuava a despachar com ele na cama do hospital, fingindo que ele ainda era o Presidente do Conselho; como é possível que as suas ideias e a sua vontade despótica tivessem conseguido sobreviver num mundo em completa transformação. É inacreditável, mas foi possível e, o seu carisma era tão forte que hoje, pessoas de vários extractos sociais, de culturas diferentes, ainda se revêem nas suas proposições políticas.

 

Na sua ascensão ao poder, Salazar terá sido influenciado pela doutrina integralista, inspirada na Doutrina Social da Igreja Católica, que apareceu nos inícios do século XX. Para o Integralismo ou, como alguns lhe chamam, o Nacionalismo Integral, a sociedade só pode ter ordem e paz através de uma hierarquia social, opondo-se às doutrinas igualitárias como o socialismo e o comunismo. Fundamentalmente católico, o Integralismo defende a protecção dos valores nacionais, como o passado histórico, tradição, cultura, costumes e religião. Portanto, nesta perspectiva, Deus, Pátria e Família, fazem todo o sentido.

 

O Integralismo defende que cada nação necessita de um sistema político adequado à sua história, cultura, religião, pensamento e tradição. Dá prioridade à preservação da cultura local, da tradição, dos costumes e ao desenvolvimento das zonas rurais, como forma de vencer o cosmopolitismo e o monoculturalismo.

 

Apesar de influenciado pelas ideias integralistas, Salazar, a partir de determinada altura, afastou-se delas ou deu-lhes uma forma mais adequada ao seu pensamento político, o que fez com que os integralistas portugueses se tivessem afastado dele, indo engrossar a oposição, ineficaz mas sempre presente, ao regime do Estado Novo.

 

As ideias integralistas, assim como outras doutrinas de direita, apareceram no início do século XX e empolgaram a juventude, levando vários Estados a adoptarem um tipo de política de inspiração católica, como reacção à revolução bolchevista na Rússia. No entanto, com o passar do tempo, a política desses Estados evoluiu para outras formas mais humanitárias e de respeito pelas liberdades essenciais, principalmente depois do término da 2ª Grande Guerra. Em Portugal isso não aconteceu devido à teimosia intransigente de Salazar, à sua recusa à inovação e à possibilidade de poder entregar o poder a outras forças, talvez catapultando o país para um desenvolvimento semelhante ao de outros países europeus. Essa possibilidade foi negada ao país, atrasando-o irremediavelmente, com tremendas consequências humanas e materiais, como as três frentes de guerra em África e a revolução libertadora do 25 de Abril, que se transformou durante alguns anos numa autêntica romaria das forças festivas da extrema esquerda e quase dando oportunidade ao Partido Comunista de implantar o seu sistema. As feridas antigas não sararam, mesmo ao fim de mais de 30 anos, e o país encontra-se de novo numa encruzilhada difícil em termos económicos e sociais, onde já se clama por um novo ditador que venha por tudo em ordem novamente.

 

Para tentarmos entender melhor a figura que foi Salazar, talvez só recorrendo à psicologia e às estruturas da personalidade estabelecidas por Carl Gustav Jung, cuja escola se afastou das ideias de Freud. Para Jung o “Processo de Individuação”, um fenómeno que ocorre com todos nós, de forma consciente ou, normalmente, inconsciente, está sujeito a influências diversas, principalmente da Anima e do Animus ou seja, da mulher que existe no interior de todos os homens e do homem que habita o interior de todas as mulheres. Diz ele que, ao lidarmos com a Anima ou o Animus, uma tremenda energia é libertada. Essa energia pode canalizar-se para o fortalecimento do Ego, ao invés do Self. Esta situação pode originar o desenvolvimento da “Personalidade-Mana” (mana significa energia ou poder que emana das pessoas, objectos ou seres sobrenaturais, e que tem uma qualidade oculta ou mágica). Quando isto acontece, o Ego identifica-se com o Arquétipo do homem sábio ou mulher sábia, aquele ou aquela que sabem tudo. Isto faz com que tomemos um caminho irreal, imaginando-nos seres perfeitos, santos, ou mesmo divinos. Na verdade, não somos tal, pois perdemos o contacto com a nossa humanidade essencial e com o facto de que ninguém é completamente sábio, infalível e sem defeitos. Isto faz com que pessoas nesta situação sintam um profundo desdém pelos outros seres humanos, que consideram inferiores, e demonstrem um apego inusitado a determinados valores que elegeram como ideais para a sociedade. Talvez esteja aqui a explicação do mito de Salazar.

 

Quero ainda frisar que este trabalho não é um trabalho histórico, é apenas uma ficção, um diálogo imaginado entre Salazar e uma entidade a que chamei anjo, que poderia ser a própria consciência de Salazar ou, o pensamento de Salazar nos últimos dois dias que precederam o acidente da cadeira. No entanto, a História passou por aqui, foram referidos muitos acontecimentos, não todos evidentemente, mas todos verdadeiros, que sucederam durante o longo consulado do ditador.

 

Por último, os meus sinceros agradecimentos a todos os participantes do Portugalclub que resolveram fazer os seus comentários acerca deste trabalho. Refiro especialmente JVerdasca, Manuel Abrantes, Lita Moniz, José Pires, João Augusto Graça e Renato Nunes, da Carolina do Sul, e peço desculpa se por acaso me esqueci de alguém. Os meus agradecimentos também a Casimiro Rodrigues, que publicou todos os capítulos sem a menor interrupção. A todos, à antiga portuguesa, Bem Hajam!   Manuel o. Pina

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