<<... "Ter problemas na vida é inevitável, ser derrotado por eles é
opcional" (Roberto Shinyashiki)...>>
De: S. Potêncio
® Os Gambuzinos (125)
"Àrre aquii
óooo!..." é uma expressão idiomática
muito usada, ainda hoje, na região da Beira Alta e mais em Trás-Os-Montes/Alto
Douro, para comandar os jumentos quando estes estão à distância, ou
atrelados aos vários utensílios agricolas; carros, charrua, arado, grades,
tremonzelas,... ou simplemente carregados com alforges, cangalhas, e outros
apetrechos que, só mesmo quem visita o Portugal interiorano, pode encontrar
hoje em dia.
- O animal segue
os instintos dele,... e, de forma, às vezes surpreendentemente bastante
racional, ele desvia-se do perigo ou do caminho mais dificil,... como também
das tarefas mais pesadas.
E é nessas horas que o
seu dono, ou tratador, o deve orientar de forma racional e conveniente ao
objectivo que é o de cumprir as tarefas que lhe são designadas.
- Na maioria das
vezes basta um simples; "Àrre aquii
óooo!..." mas não é raro ter que usar a
força, como sejam umas "verdascadas" ou "vergastadas"
(*) dadas no lombo, para ele obedecer e seguir debaixo de controle
até ao destino.
- É muito comum o
animal se aperceber do gesto, e antes que o dono abaixe o chicote, ele
escuta a voz de comando, e/ou o simples berro do dono... "Àrre aquii
óooo!..."
Então tudo funciona muito bem!...
- Melhor
até que nem a voz de comando de qualquer um "cabo de guerra", em
campo de batalha!, lá p'rás bandas do continente Africano...
- No entanto, no dia
seguinte, o mesmo jumento continua a sair do rêgo, continua a querer jogar a
albarda fora do lombo, continua a querer fugir para o prado e apenas ficar ali
a pastar, em vez de trabalhar!,... e ele continua a desobedecer a voz
do dono, e só depois de apanhar umas novas "verdascadas", é que as
coisas voltam ao lugar inicial... é assim algo como a politica
"xuxial" desenvolvida em liberdade democrática em favor do nosso Zé Pô...
vinho (só devemos beber do
bom)... no pós abrilada de cunho
militar, que deu lugar à abrilada de cunho partidário!, a partidocracia que por
sua vez deu lugar ao meu <<código
Dá VintchCinco de Abri-loooo!....>>
em público ( o gógó!!!...) para manter viva a chama de, sempre acreditar que
viemos de algum lugar, e temos um futuro pela frente.
Sem qualquer intenção
de plagiar os versos do velho samba;
<<< eu vim de
lá!,
--- foram me
chamar!!!???,...
eu estou aqui, o
qu'é qui há?!...>>,
- eu vos
digo que, eu realmente vim de lá, e de lá, eu guardo essa e muitas outras
expressões que não podem morrer, nem serem alijadas da nossa cultura
pátria porque:
--- Aca patrão!,... voismecê veio do "puto" fais muito tempo?!
É... e purquê!?, hein???
(perguntava o dono da Roça situada ali perto da estrada da Tundavala -
considerada a maior obra de engenharia rodoviária, deixada em Angola, pelos
Engenheiros Portugueses da época)
--- Né nada não,
patrão!...
é que o patrão já é
branco de primeira, purquê tem branco "Minino" que vem p'ra tropa
aqui, e diz que é branco de primeira mas num é não!,...
--- ele num fala direito... a gente num entende
nada, não!...
- E o que é que tu
sabes disso, hein!?
Tu nunca lá fostes ao
"puto"... como é que sabes que tem lá branco de primeira ou de
segunda?!
Aca patrão!,...
eu sabo!,... eu
sabo inté que, tem muitos branco lá no puto, que num sabe o que eu sabo!...
O Soba, sabo
mais... ele inté mandou eu p'ra estudá nas Missão, lá no Huambo, mas
eu num gostei de lá não!...
- Quando
a <<sô fessora>> qui era Freira, muito boua,...
ela ensinou que os homi era tudo igual... eu disse que não, e ela me
expursou de lá!
- Botou eu p'ra fora, e
por isso eu trabalho agora aqui na Roça.
- Não!,... tu deves ter
feito alguma das tuas, senão ela não te explusava, da escola!
Aca patrão!,... eu
falei p'ra ela que eu sou "negro" e o patrão é branco - cumé que
somos tudo igual??? Eu num sou, não siô!...
- Tu,
negro!?...ah,aha,ah... tu és preto!, carago!
Aca,
patrão!,... preto eu!!!???
- preto
é cárvão!... eu sou é negro!, mas num foi por isso não.
- Ela me botou
p'ra fora purquê, eu num respondi direito na aula de giógrafia!
Não me digas!,... e o
que foi que ela te perguntou ó Jaquin!?
Aca, patrão!,...
- eu perguntei a ela
p'ra que me falasse de onde vinha esse "bicho do mato" que aqui na
roça nóis chamamo de Transmontano!...
E ela me
a´rrespondeu... "Àrre aquii óooo!..."
- ò despeis me disséro
que ela veio de lá tamben...
(*) a maioria dos
dicionários menciona os dois verbetes; verdascada/vergastada - como
sinónimos aliterados da verga ou da verde vara com que se tangem a maioria dos
animais domésticos na minha região. - No meu conceito, tão importante
quanto a batuta do maestro em pleno palco em frente à Fila Harmónica no
"cureto" lá da aldeia...
Nota do Autor: esta
crónica vai dedicada à Leitora Fatima
Parente (escriba) minha conterrânea, que acaba
de ser homenageada como a "Mulher Portuguesa do Ano"!!!...e que aui
no portal tem mostrado a sua "garra"!... nunca jamais esmorecer
porque dos fracos não reza a história!.... parabéns à ilustre combatente.
Portugal é eterno!... e
nunca se diga Adeus para sempre!...
- Silvino Potêncio - O "home" de Caravelas-Mirandela de Trás-Os-Montes!
Autor do: Árri Pot "R" Transmontano!...