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DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA (XVI)

-----Message d'origine-----
De : LUSIADAS [mailto:cardigos@cardigos.biz]
Envoyé : dimanche 22 juillet 2007 16:33
À : Undisclosed-Recipient:;

Objet : DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA (XVI) 
- Ainda não estás cansado? Queres descansar um pouco, tomar um chá?

 

- Não. Não me apetece tomar chá e não estou cansado. Se soubesses a canseira que é governar este país, aí sim, saberias o que é estar cansado.

 

- Eu sei o que é essa canseira, as noites sem dormir, a desconfiança permanente de uma traição, sempre metido naquele gabinete de São Bento, que de santo não tem nada, considerando as coisas que ali decidiste fazer.

 

- Ainda bem que sabes o que tem sido a minha vida de martírio, completamente devotado à Pátria e à sua defesa.

 

- Sim, mas essa Pátria só existe desde que sejas tu a governá-la, como se fosse propriedade tua. Nunca concebeste a ideia de que outros poderiam ter tanto amor à Pátria como tu.

 

- Isso não é verdade, Tenho dado oportunidade a muita gente, que se tem devotado à Pátria com toda a sua alma e coração. Pena é que alguns tenham desandado e tentado me trair.

 

- Oh António! Não mintas a ti mesmo. Nunca deste oportunidade a ninguém. Deixaste apenas que brilhassem algum tempo, depois apagaste-lhes o brilho. Tornaste as eleições em autênticas burlas, só para garantires o poder.

 

- Se mandei adulterar os resultados eleitorais foi porque a Pátria estava em perigo, tudo fiz para preservar a Nação do assalto de gente indesejável.

 

- Estás convencido disso, António? Tirando o caso de Beja e aquele pseudo atentado feito pelos anarquistas, de que escapaste ileso e aproveitaste para culpar os comunistas, todas as outras tentativas, fosse por eleições ou por golpes de Estado, foram feitas por gente tua, do teu partido, gente que colaborou anos e anos contigo. E fizeram-no por estarem inconformados com a situação.

 

- É verdade que a maior parte das tentativas foram feitas por gente que eu considerava leal a mim. Enganei-me. Afinal, mostraram aquilo que eram, uns traidores.

 

- Seja como quiseres, António. Continua com o que estavas a dizer, que o Amilcar Cabral abriu uma nova frente de luta na Guiné.

 

- Sim. Depois que o  Lumumba foi assassinado e o Congo ex-belga entrou em guerra civil, apoiei o Tchombé para libertar um pouco a pressão terrorista que se fazia sentir no norte de Angola. Foi sol que durou pouco, as forças das Nações Unidas derrotaram as do Tchombé e este teve que fugir e refugiar-se em outro país africano. Em 1964 fui surpreendido com a abertura de outra frente em Moçambique. Desta feita os terroristas eram dirigidos pelo Dr. Mondlane, um indivíduo culto que estudou numa missão presbiteriana suiça, depois numa escola secundária da África do Sul pertencente à mesma Igreja, esteve em Lisboa na universidade e acabou por se doutorar em sociologia nos Estados Unidos da América. Um homem assim, culto e letrado, acabou por se revelar um terrorista da pior espécie, fundou a FRELIMO e começou a luta armada contra nós em Moçambique. Não sei para que é que serviu tanto estudo, incapaz de compreender a nossa situação especial no mundo e a nossa vocação de sociedade multirracial. Fiz a mesma coisa que fiz com Angola e a Guiné: em força para Moçambique! A pressão internacional era cada vez maior. A ONU, liderada pela Inglaterra, pelos Estados Unidos e pela Rússia, aprovava resoluções contra nós, exigindo que fizéssemos referendos para a autodeterminação das Províncias Ultramarinas e que estabelecêssemos um diálogo com os movimentos de libertação. Recusei liminarmente. Não falava com terroristas. Quanto aos referendos eram uma perfeita idiotice, eu que nunca tinha feito um referendo na Metrópole, ia lá fazer um referendo em África. Fazer um referendo era discutir a Pátria, e a Pátria não se discute. Orgulhosamente sós, não importava, havíamos de fazer valer a nossa visão do mundo e da sociedade. Pressionavam muito mas ninguém se atrevia a intervir militarmente. Mas ajudavam os terroristas com dinheiro e armas, não só os comunistas, mas muitos países ocidentais. O equilíbrio do orçamento, a minha grande bandeira de estabilidade durante muitos anos, revelava-se uma grande dor de cabeça. Os gastos com as três frentes de guerra eram tremendos. Já não conseguia controlar a expansão económica da Metrópole. Conseguíamos sobreviver com as remessas dos emigrantes e com as receitas do turismo, mas este trazia também influências perniciosas para a nossa moral e costumes. Era uma situação preocupante, mas eu pouco podia fazer. O pior de tudo eram as traições, que continuavam a minar a nossa moral. Imagina que até o Papa nos traiu. Nós, país católico, que até a Virgem escolheu para aparecer ao mundo, nós, cujo regime enunciava Deus, Pátria e Família como valores fundamentais da sociedade, fomos traídos pelo próprio Papa, que visitou a Índia em 1964 e depois foi à ONU. Não lhe perdoei, nem sequer quando veio a Fátima no dia 13 de Maio de 1967.

 

(Continua)   Manuel O. Pina

 

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