José Fanha - Lisboa
O meu amigo Helder levou ontem um medíocre da nossa professora e, quando chegou ao recreio, pôs-me uma mão no ombro e disse-me com cara de quem sabe muito bem do que é que está a falar: “Sabes o que eu te digo, pá? As gajas são lixadas!”
Fiquei.-me com aquela. Se o Helder dizia é porque devia ser verdade. Eu é que andava distraído e nunca tinha pensado a fundo nesses assuntos relacionados com gajas. Mas pensando bem, pensando bem, o Helder tinha toda a razão. Verdade, verdadinha: “As gajas são lixadas”.
Bastava lembrar-me da Armandinha que em vez de me dar os cromos das pastilhas elásticas preferia deitá-los para o caixote do lixo só para me irritar. E da Célia, a quem pedi namoro e se desatou a rir. E da Joana que todos os dias me dizia que eu tinha cara de sapo engasgado.
O Helder tinha mesmo razão. Quando fui para casa, ia a repetir cá para comigo: ”As gajas são lixadas! As gajas são mesmo lixadas!” Olhava para cada mulher que passava por mim na rua e pensava: “Tu és uma gaja lixada!” Vinha outra... “Tu também és uma gaja lixada!”
Cheguei a casa a repetir baixinho “As gajas são lixadas! As gajas são...”, e olhei para a minha avó, “As gajas são...” “O que é que vens a dizer, filho?”, perguntou-me ela. Eu nem disse nada. Fiquei corado desde o calcanhar até ao alto da cabeça. Ela a querer saber o que é que eu tinha, e eu que não tinha nada. Nadinha.
Ai não que não tinha! Fui logo a correr para o meu quarto e pus-me a pensar muito depressa que é a única maneira de pensar quando estamos aflitinhos.
Fiquei.-me com aquela. Se o Helder dizia é porque devia ser verdade. Eu é que andava distraído e nunca tinha pensado a fundo nesses assuntos relacionados com gajas. Mas pensando bem, pensando bem, o Helder tinha toda a razão. Verdade, verdadinha: “As gajas são lixadas”.
Bastava lembrar-me da Armandinha que em vez de me dar os cromos das pastilhas elásticas preferia deitá-los para o caixote do lixo só para me irritar. E da Célia, a quem pedi namoro e se desatou a rir. E da Joana que todos os dias me dizia que eu tinha cara de sapo engasgado.
O Helder tinha mesmo razão. Quando fui para casa, ia a repetir cá para comigo: ”As gajas são lixadas! As gajas são mesmo lixadas!” Olhava para cada mulher que passava por mim na rua e pensava: “Tu és uma gaja lixada!” Vinha outra... “Tu também és uma gaja lixada!”
Cheguei a casa a repetir baixinho “As gajas são lixadas! As gajas são...”, e olhei para a minha avó, “As gajas são...” “O que é que vens a dizer, filho?”, perguntou-me ela. Eu nem disse nada. Fiquei corado desde o calcanhar até ao alto da cabeça. Ela a querer saber o que é que eu tinha, e eu que não tinha nada. Nadinha.
Ai não que não tinha! Fui logo a correr para o meu quarto e pus-me a pensar muito depressa que é a única maneira de pensar quando estamos aflitinhos.
José Fanha