-----Message
d'origine-----
De : VOZdoPOVO
[mailto:portugalclub@portugalclub.org]
Envoyé : mardi 27 février
2007 00:26
À : Undisclosed-Recipient:;
Objet : Os sem memória
Está no Hospital de Portalegre há um mês.
A
única coisa que o Hospital sabe é que o homem, que mal fala português, se chama
Sing e que tinha um
patrão chamado Derlei. Pelo menos é o
que ele diz. O hospital
não sabe mais nada. O homem também não. Amnésico. Terá caído numa obra em
Lisboa e seguido para o São José, com um traumatismo craniano. Os serviços do
hospital descobriram um papel no seu bolso, com a indicação de Portalegre. Como
já não precisava de cuidados médicos em Lisboa, foi transferido para a unidade
no Alentejo. A sua identidade continua por determinar.
A assistência social já contactou instituições, embaixadas e segurança social.
Nada. Nem sequer se sabe como foi parar ao hospital de São José. A direcção de
Portalegre, receia que Sing venha a receber alta e não possua no exterior
ninguém que o auxilie. A alternativa é
uma instituição de apoio a gente sem abrigo. A
história de Sing condensa a
triste forma como tratamos os imigrantes. Condenados à ilegalidade, explorados
até servirem, abandonados à porta de um hospital quando caducam. Reduzidos a isso mesmo. Mão-de-obra
barata e descartável. Os que se podiam preocupar estão longe. Não há quem dê
pela sua falta ou se queixe do seu desaparecimento. Lá fora, ninguém os espera.
São pessoas sem identidade, sem laços, sem rosto, sem fala ou voz. São sem papéis, são sem abrigo. Sem memória. Joana Amaral Dias